DIA DE MUDANÇA
Carmen M.S.F. Pilotto
Limpou o banco da praça com as mãos trôpegas. A sujeira insistia em infiltrar-se pelas frestas. Destacou do caderno quatro novas páginas sem piedade. Folha por folha, como num ritual, deixou-se envolver por longos momentos na minuciosa tarefa de imunizar o assento. Missão cumprida, respirou profundamente e após endireitar o corpo alquebrado, aconchegou-se sobre o espesso maciço de plantas. Observava os passantes com critério. Não emitia a menor expressão facial. Era necessário disfarçar, afinal poderia causar constrangimentos. Os defeitos de seus pares sobressaiam-se assustadoramente. Jamais havia se apercebido de como a humanidade andava estranha, nas faces tencionadas, nos andrajos pestilentos, nas gorduras exacerbadas ou mesmo nas magrezas ansiolíticas. Era um circo de horrores, alguns afoitos, outros desalentados e de almas esmaecidas. Como não notara que seus pares e mesmo ele pertenciam a uma aluvião de perplexidade e desatino?
Todos traziam em suas faces trejeitos vazios de alma e de vida... Uma lágrima furtiva rolou pelo vinco de seu rosto e quando chegou aos seus lábios já encontrou um respaldado sorriso. Sua vida se abria neste exato momento como um mirante à fantasia. Afinal, era o primeiro dia de sua merecida aposentadoria.
Limpou o banco da praça com as mãos trôpegas. A sujeira insistia em infiltrar-se pelas frestas. Destacou do caderno quatro novas páginas sem piedade. Folha por folha, como num ritual, deixou-se envolver por longos momentos na minuciosa tarefa de imunizar o assento. Missão cumprida, respirou profundamente e após endireitar o corpo alquebrado, aconchegou-se sobre o espesso maciço de plantas. Observava os passantes com critério. Não emitia a menor expressão facial. Era necessário disfarçar, afinal poderia causar constrangimentos. Os defeitos de seus pares sobressaiam-se assustadoramente. Jamais havia se apercebido de como a humanidade andava estranha, nas faces tencionadas, nos andrajos pestilentos, nas gorduras exacerbadas ou mesmo nas magrezas ansiolíticas. Era um circo de horrores, alguns afoitos, outros desalentados e de almas esmaecidas. Como não notara que seus pares e mesmo ele pertenciam a uma aluvião de perplexidade e desatino?
Todos traziam em suas faces trejeitos vazios de alma e de vida... Uma lágrima furtiva rolou pelo vinco de seu rosto e quando chegou aos seus lábios já encontrou um respaldado sorriso. Sua vida se abria neste exato momento como um mirante à fantasia. Afinal, era o primeiro dia de sua merecida aposentadoria.