Plinio Montagner
Está
aposentado? Acabou o dinamismo? Ficou sem plateia e não tem mais em quem
mandar? Se vire! Só não faça uma coisa: não se aposente se for para ficar
aporrinhando a família. A velhice é dura mesmo.
O Elixir da Longa Vida - de Irving
Wallace, é um excelente de ficção. O protagonista era um cientista que havia
inventado um remédio que prolongava a vida, mantinha a beleza e o dinamismo.
Nem imaginem os perigos que ele passou.
Ficar velho,
doente, e feio, ninguém quer. Mas fica. O tempo é inexorável e não tem
sentimentos. Só no plano da ficção a juventude é eterna.
Não há quem
conteste, mas o elixir da juventude e da longa vida é o amor, a fé, a família,
o dinamismo, o trabalho, uma ocupação, mesmo seja o melhor da vida: os prazeres
(de repente não era pecado...).
Quem tem um
mínimo de energia deve consumi-la, fazer um jardim, regar as plantas, brincar com
os netos, dançar, fazer compras, cozinhar, lavar pratos.
O pior que
pode acontecer ao aposentado, fora a doença, é a perda de amigos e a
indiferença; daí a melancolia toma conta da pessoa. Aposentar e ficar parado não
é bom para ninguém.
Não quero nem
pensar em instituições – Lar dos Idosos,
Melhor Idade, Terceira Idade, Melhores Anos, Pedaçinho do Céu, Anos
Prateados, Lar disso e Lar daquilo, os nomes são bonitos, mas só amenizam a
tristeza.
No entanto, essas
instituições, quando boas, podem ser um lugar melhor para morar do que com uma
família sem condições de ficar ao lado do idoso.
Os melhores
anos da vida são os da infância e da juventude.
As cidades têm
clubes e praças onde há diversão e se joga de tudo: truco, vinte e um, tranca,
mexe-mexe, dama, e também onde se joga conversa fora. Mas não são lugares para
morar.
Para
reconquistar a liberdade, o idoso precisa reconquistar sua independência
afetiva, voltar a gostar de si mesmo, e talvez fosse bom morar um pouco
distante da família, noutra casa. Suas coisas ficariam no mesmo lugar, o
radinho, a lanterna, o canivete, o cortador de unhas, a tesourinha, as revistas
e jornais não iriam parar no lixo, ouviria as músicas do seu tempo, assistiria à
TV e dormiria a qualquer hora. E ainda poderia zanzar pela casa à vontade.
Se a família
vive num apartamento fica mais difícil. Se possível o idoso deve viajar e parar
de ficar economizando.
O idoso deve
se vestir bem. Nada roupas e chinelos gastos, óculos antiquados. Deve ficar diferente.
Comprar perfumes caros. Deixar a barba crescer se tiver vontade e tomar todos os
chopes e vinhos que não foram tomados (se o médico concordar...).
Quem perdeu a vontade para essas coisas boas é
porque a melancolia já chegou. Agora precisa ser enxotada com urgência.
Ninguém vai se
preocupar também se você vai ou não à missa, ou, se de repente, ficou ateu ou
achou seu Deus. Tenha o melhor plano de saúde. Isso é importantíssimo para não
empobrecer a família.
Cultivar a
arte da amizade é importante. Quem se sente velho, ou se for mesmo, deve
conversar bastante, ler, contar piadas, e às vezes, se refugiar onde existe silêncio.
Se de repente se sentir só, vá à casa de um amigo, mesmo sem ser convidado. Dê
presentes. Se puder, esteja atento a datas de aniversários.
A Internet é
uma amiga que põe o mundo diante do nosso nariz. E é mais fácil mexer com o
computador do que se imagina.
Não seja
daqueles tipos de velhos mal cheirosos, relaxados. Corte o cabelo no melhor
barbeiro e frequente a manicure. Seja elegante. Aposente suas bermudas velhas e
os óculos antiquados. Use óculos escuros, da moda. Não pare de dirigir. Faça
implantes, pinte o cabelo caso não se sentir bem com os seus; seus amigos não
vão ligar.
Implicância? Zero!
Deixe o cachorro do vizinho latir à vontade nem implique com o lixo fedorento
que deixaram na porta de sua garagem.
Quer viver
feliz com sua família? Se for para criticar ou dar conselhos, feche a boca. Não
se intrometa na vida do genro, da nora, da sogra, nem de ninguém.
Existe um vício
que se torna pior na velhice. É a presunção. Presunção para tudo, sem saber que
muitos chegam ao fim da jornada tão ignorantes quanto eram no início dela.
A velhice é
momento da reflexão e deixar a razão para os outros mesmo se tiver certeza de
que está certo.
Os anos
vividos não são privilégios para sermos donos da verdade, nem ranzinzas nem
repetitivos. E quando estiver batendo papo conte só uma vez suas histórias...