Durante uma caminhada, deparei-me com um bueiro coberto de verde!
Fotografei e trouxe para os escritores e poetas para que cada um escrevesse sobre o tema em verso ou em prosa.
E brotaram estas maravilhas!
Versos para um bueiro verde
João Baptista de Souza negreiros Athayde
Contraponto sutil invade a alma
Na cisma dolorosa de um dilema:
Como podem os liquens e miasmas
emergirem do lodo – quais fantasmas
E tecerem de verde um poema?
O BERÇO
Andre Bueno Oliveira
Pouco importa ao bebezinho,
Se o seu bercinho é faceiro...
A Flora escolheu seu ninho,
Num desprezível bueiro.
Apenas
bueiro
Ésio Antonio Pezzato
Bueiro, apenas bueiro
Mas transformou-se em canteiro,
Logo ao raiar da manhã.
Nele nasceram o poejo,
O perfume sertanejo
E a essência da hortelã.
A paisagem colorida
Trouxe a essência da vida
Ao transeunte passageiro,
Que em seu passo rotineiro
Viu a paisagem florida
Que transformou o bueiro
No mais sublime canteiro
Na paisagem colorida...
...saiu assim o poema do bueiro
Bueiro verde
Ivana
Maria França de Negri
Um insignificante bueiro, entre milhares
de outros, acostumado a receber esgoto, enxurradas, águas pluviais e de lençóis
subterrâneos, humildemente se submete aos propósitos aos quais foi criado.
Também conhecido como boca-de-lobo, sumidouro
ou vala, seria apenas mais um anônimo entre milhares, se não fossem as sementes
de alguma plantinha se aninharem em seu interior.
Alheio aos transeuntes, à quarentena, à
pandemia, às tempestades ou ao sol causticante, seu sedimento terroso permitiu
a germinação.
Mesmo no lodo ou na aridez, a vida sempre
dá um jeito de acontecer...
E ele se cobriu de verde!
Vida
florescendo
Cassio Camilo Almeida de Negri
Tal qual a estrela de Davi em seu
triângulo com o ápice para baixo, servia como esgoto com a sujeira a descer.
Agora, como o triângulo de ápice para cima, a vida floresce em direção ao céu.
Esse bueiro é como nós, nossa polaridade
pode ser a de um bueiro ou de um canteiro, temos ambos, mas qual irá predominar?
TROVA
Leda Coletti
Nesse tempo turbulento
Ver um bueiro verdinho
Traz a nós doce acalento
Esperança, só carinho.
BUEIRO DENGOSO
Elda
Nympha Cobra Silveira
Estou sozinho...
Bem
pertinho da calçada.
Crianças
passam correndo,
Outras
bem devagarinho.
Elas
ficam pertinho de mim,
Com
os pezinhos na enxurrada
Ai!
Como sinto alegria
Poderia
ser sempre assim!
O
sol quer brincar também
Mas enxuga
todas as águas,
Mas
fez brotar no meu gradil
Relvas
e florezinhas mil!
E...ouço
ao passarem:
Que
bueiro gracioso!
É TERRA
Carmelina
Toledo Piza
Quando
falamos de criação
Vamos
para um território desconhecido.
O
território da alma que
Leva-nos
ao encandecido.
Quando
olhamos para o chão
Vemos
marcas do tempo em cicatrizes.
A
dor de um passado distante
Coberto
de vernizes,
Mas
a criação de um verde solitário
Em
grades verticais,
De
um bueiro em uma rua qualquer
Estamos
no território que almejamos
A
TERRA, com as nossas certezas.
Onde
floresce a mata verde
Abençoada
por suas belezas.
O
bueiro
Elisabete Bortolin
Chegou Janeiro, a cerveja rolou bueiro
adentro matando pessoas.
Chegou Fevereiro, veio o Carnaval e as
tempestades, inundando casas e avenidas, entupindo os bueiros.
Chegou Marco e Abril, a Covid-19 começou
a invadir o Brasil, levando muita gente e dando trabalho aos coveiros.
Chegou Maio, o Moro foi demissionado
abrindo sua Boca de Lobo contra o presidente.
Estou entendendo e resumindo que a
palavra do momento é Bueiro.
Tudo passa assim como nossa tristeza e
isolamento, pois o Bueiro vai florescer, FÉ.
O bueiro
Leia
Paiva
Em
forma de retângulo
Grades
negras, com ferro retorcidos
Guardam
o vácuo, um buraco negro e sujo.
Aguas
barrentas de enxurradas
Vão
adentrando no dito cujo.
Terras
acumuladas nas beiradas,
Em
todos os ângulos, folhas secas
Estercam
o barro intruso.
Nasce,
então, uma planta encantada
Enche
de verde a entrada,
Tornando,
assim, um quadro
Antes
antiestético, feioso
Em
um quadro poético, harmonioso.
Nas
nossas introspecções
Encontramos
buracos, sombras, porões.
Nas
fendas das horas perdidas,
Oportunidades
não aproveitadas,
Nas
horas distraídas, desperdiçadas
Em
inutilidades, fúteis,
Perdemos
preciosidades.
Porém,
nunca perdemos as ramagens
Das
verdes férvidas esperanças
Aprendidas
com as experiências vividas,
Que
brotam nas bordas dos bueiros
De
nossas vidas.
"O Verde
Brilha" no bueiro
Lourdinha
P. Sodero Martins
Quem diria ? Que em bueiro solitário
nasceriam "acalantos" em forma de verdes ramagens? Pois ali, naquela
grade, mal tratada, com ferrugem germinaram ervas férteis mais parecendo
miragem! Esverdeou-se o bueiro, majestoso se tornou! Quem por ele agora passa o
aprecia e constata ... "Verde vida" o transformou!
Tapeçaria
Lídia Sendin
Melhor que tapete persa
Colocado em belo chão,
A imagem nos desperta
Serena admiração.
A Natureza trabalha
Fiando a tapeçaria
E se ninguém atrapalha
Nasce arte em poucos dias.
Quem passa vê essa obra
De um poeta tapeceiro,
E com espanto comprova
Que ali já foi um bueiro.
Quarentena - Será
que vai deixar saudades?
Madalena Tricânico
Estava ela desenvolvendo seu trabalho de
varrição das ruas quando ouviu uma lamuria, uma lamentação...
-
Eu não queria estar aqui no meio fio da calçada eu queria estar lá perto do
muro onde estão aquelas flores coloridas.
-Ahnnn...!Quem
está falando? Não vejo ninguém. A rua está completamente deserta.
-
Você só olha para cima! Olhe para baixo!
-
Não é possível! Este silencio do isolamento de alguns e a preocupação de outros que precisam trabalhar faz, as vezes,
ouvirmos vozes, mas agora estou conversando com um bueiro?
-
Sim sou eu, e não me chame de bueiro!
-
Ah não! Vou te chamar do quê? De vaso?
-Tá
bom...vaso. Ora, não existe gente de todo tipo? Vaso também pode existir ou
“ser”. Eu sou um vaso! Pronto falei!
-
Combinado. Vou varrer só os lixos e a terrinha vou deixando. Elas sempre trazem
semente que os passarinhos espalham e se você tiver sorte e elas germinarem...
Era
outono, o tempo passa rápido. O combinado foi mantido e quando chegou a
primavera o desejo foi realizado.
-
Nossa que lindo aqui na esquina da minha casa. Parece uma jardineira, um vaso!
Quem será que colocou as sementes em um BUEIRO!