EROTIDES DE CAMPOS
Nascido
em Cabreúva, interior de São Paulo, em 15 de outubro de 1896 e falecido em 20
de março de 1945. Compositor de marchinhas, sambas, choros, pianista e tocador
de vários instrumentos, foi professor de física e química e passou parte da sua
vida na cidade de Piracicaba. Em algumas composições, Erotides costumava
assinar com o pseudônimo de Jonas Neves o que induziu muitas pessoas
acreditarem que esse Jonas seria outro compositor, quando na verdade era o
próprio.
No
universo da música constam várias peças com o nome Ave-Maria. Muitos célebres
são as de Charles Gounoud, de Franz Schubert, Giuseppi Verdi, Bonaventura
Somma, Giacomo Puccinni. Tratam-se de melodias que ultrapassaram as fronteiras dos países de
origens e tornaram-se canções do mundo musical.
A França, Itália e Áustria presentearam o mundo através dos seus
compositores, com estas canções clássicas.
O
Brasil também contribuiu com a sua Ave-Maria, não no campo clássico mas no
popular. Falamos da célebre Ave-Maria composta em 1924 e gravada em disco de
cera por Pedro Celestino, irmão do cantor e ator Vicente Celestino.
Na
época não obteve consagração popular mas em 1939 o cantor Augusto Calheiros
(nascido em Maceió em 05 de junho de 1891 e falecido no Rio de Janeiro em 11 de
janeiro de 1956) de voz afinadíssima e dono de agudos peculiares gravou esta
valsa e tornou-a conhecida nacionalmente.
Nossos
avós e nossos pais cantaram muito esta canção. Depois desta outras Ave-Marias
enriqueceram o cancioneiro popular brasileiro, como por exemplo: Ave-Maria no
Morro, de Herivelto Martins; Ave-Maria dos Namorados, de Jair Amorim/Evaldo
Gouveia e Ave-Maria Sertaneja, de Júlio Ricardo/O. de Oliveira, tão bem
interpretada por Luiz Gonzaga. Aqui, uma
oportunidade para você que porventura tenha ouvido seus pais e avós cantarem
esta canção ou mesmo tê-la ouvido no tempo do rádio sadio, vale a pena
cantá-la. (letra completa no final deste estudo) Realmente, as músicas de
Erotides de Campos tem o toque imortal da genialidade.
Foi
piracicabano por escolha e vivência. Ainda menino veio morar em Piracicaba em
companhia do tio, Luis da Silveira Neves, em 1908. Desde criança sua vocação
para a música despertou a atenção de professores e da família.
Aos
pais, músicos e muito pobres, não escapou o talento precoce do filho que aos 8
anos já estudava piano com Francisca Júlia da Silva, poetisa de renome e
pianista, ao mesmo tempo em que cursava escola municipal.
Em
1905, um padre salesiano, ouvindo falar dos dons do menino, levou-o a estudar
no Liceu Coração de Jesus em
São Paulo. O seu virtuosismo na flauta, apesar da tão pouca
idade, surpreendeu a todos. Mas,
passando as férias em Cabreúva, em 1907, Erotides foi atacado por tifo e teve
que abandonar os estudos em
São Paulo.
Chegando
a Piracicaba, Erotides integrou a já famosa orquestra piracicabana que se
apresentava nos cines Iris e Politeama.
A
orquestra entre outros, contava com a participação de Osório de Souza, Melita e
Carlos Brasiliense, João Viziolli, Renato Guerrini. Participou também da banda
União Operária. Estudou na Escola Normal, atual "Sud Mennucci" onde
chamou a atenção do também músico Honorato Faustino que passou a estimulá-lo.
Formou-se
em 1918 e foi lecionar na escola da estação de Monjolinho em São Carlos. Conseguiu
a segunda nomeação retornando a Piracicaba onde lecionou no Grupo Escolar de
Tanquinho e depois no de Dois Córregos. Em 1921 casa-se com Maria Benedita
Germano.
Por
alguns anos, de 1923 a
1932, ficou em Pirassununga atendendo ao convite do então prefeito e futuro
interventor de São Paulo Fernando Costa. Mas volta a Piracicaba em 1932 nomeado
como professor de Química do Curso Complementar, anexo à Escola Normal. Destacou-se não apenas como professor e músico
mas também como homem voltado à caridade. Ele com sua mulher Tita foram os
criadores do "Culto à Saudade" que criou o costume de os vicentinos,
no Dia de Finados, postarem-se à porta do cemitério colhendo donativos.
São
mais de 230 as composições de Erotides de Campos, entre peças editadas e não
editadas. São berceuses, canções, choros, dobrados, charlestons, elegias,
valsas e outras formas musicais. Suas
partituras foram ilustradas por desenhistas famosos como Belmonte, Carnicelli,
Valverde e Vantik. Entre os parceiros de
Erotides, quase sempre autores dos versos, estão Benedito Almeida Júnior, Elias
de Mello Ayres, Francisco Lagreca, Leandro Guerrini, Newton de Almeida Mello,
Silvio Aguiar Sousa entre outros.
Usando
pseudônimos Erotides de Campos acabou sendo vítima de um grande equívoco: a sua
mais famosa composição, a "Ave Maria", foi composta com o nome de
Jonas Neves, na verdade parte de seu nome, Erotides Jonas Neves de Campos.
Isso
lhe custou a retenção, após sua morte, dos direitos autorais pela SBAT - Sociedade Brasileira de Autores
Teatrais. Apenas em 1985 o jornalista Luiz Thomazi
conseguiu desfazer o equívoco permitindo à viúva Tita usufruir dos direitos
autorais.
Entre
as centenas de composições destacam-se além da "Ave Maria",
"Murmúrios do Piracicaba", Alvorada de Lírios, Uma Barquinha Azul.
Erotides
de Campos morreu repentinamente em 20 de março de 1945 quando elaborava a capa do
"Cancioneiro Escolar" com músicas suas. Homem humilde, recatado,
mulato, recebeu a homenagem de Piracicaba num enterro em que se revelou a
comoção popular.
Seu
nome foi dado a uma rua da cidade, ao grupo escolar de Paraisolância e a uma
sala de música do I. E. "Sud Mennucci". No cemitério da Saudade, foi erguido um
mausoléu com as primeiras notas musicais da "Ave Maria". (Também
recentemente, em 27 de março de 2012, um teatro foi construído nas dependências
do antigo Engenho Central às margens do Rio Piracicaba em sua homenagem)
Em
Piracicaba foi instituída a Semana Erotides de Campos (conforme lei promulgada
em 1996; de 09 a
15 de outubro acontecem apresentações musicais) e que tem sido esforçadamente
levada à frente pelo biógrafo de Erotides, o engenheiro agrônomo José Carlos de
Moura.
Bibliografia
Memorial de Piracicaba 2002/03, de Cecílio
Elias Neto
Alvorada de Lírios Obra musical de Erotides de
Campos. Publicação da FEALQ Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiróz 1996
Coordenação José Carlos de Moura
Sugestão
de Bibliografia Crítica
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al.
Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED).
Enciclopédia da Música Popular Brasileira: erudita, folclórica e popular. 2.
ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.