Feliz-Cidade
Ivana Maria França de Negri
Comemorar aniversário é muito bom!
Bolos, doces, assoprar velinhas, amigos ligando, mandando e-mails e enviando
flores. Tão bom ser lembrado com carinho
e ganhar presentes!
Nossa adorada Piracicaba está
completando 253 anos. Ela faz parte de nós, e nós fazemos parte dela porque
aqui vivemos e aqui ganhamos a vida. E é neste torrão de terra que a nossa vida
acontece, e é este mesmo solo que vai acolher, complacente, nossos restos
mortais um dia.
O que gostaríamos de dar de presente
à nossa terra natal? Quanta coisa poderíamos colocar na lista...
Neste primeiro de agosto de 2020, todos
nós, piracicabanos, gostaríamos de ganhar de presente uma cidade livre da
pandemia, com comércio aberto, famílias unidas se abraçando, restaurantes,
cinemas e escolas funcionando e as crianças brincando com os amigos, coisas que
há uns meses pareciam ser tão corriqueiras...E agora são preciosidades das
quais sentimos tanta falta... É pedir muito?
Feliz aniversário, Piracicaba!
Feliz-Cidade para todos nós, e que Piracicaba volte logo a ter aquele agito
cultural, estudantes alegres e barulhentos como maritacas e as reuniões
familiares e de amigos acontecendo! Que assim seja!
SAUDOSISMO PIRACICABANO
Leda
Coletti
Quanto mais a idade avança, mais
aumenta o saudosismo da terra que nos viu nascer. Desperta a saudade da época
.em que éramos crianças.. Os hábitos e costumes da época eram diferentes dos da
época atual. O trânsito era tranquilo e
nas ruas com paralelepípedos, o bonde era um meio de transporte bastante
utilizado por todas as classes sociais e idades. Lembro-me que na década de 40,
nós crianças íamos á escola, igreja, utilizando-o sem a companhia de adultos.
Geralmente para ir à escola íamos a pé e com os colegas, vizinhos de
quarteirão.
Era comum, à noitinha, famílias inteiras
levarem suas cadeiras para as calçadas, enquanto as crianças brincavam à vista
delas. Aos sábados e domingos era uma festa para as famílias( pais e filhos
menores) passear na Rua Governador Pedro de Toledo para apreciar as vitrines
lindamente decoradas e iluminadas. Nessa
época, nossa cidade já era considerada como grande cidade da região.
Na juventude, já na sexta década do
século passado, nos anos dourados, íamos assistir filmes nos cinemas locais e
quando os amigos moravam em outros lados da cidade, voltávamos sem receio
algum, sozinhas para casa. Também havia o “footing” na praça central, onde nós
moças circulávamos numa direção e os rapazes em sentido contrário, além da
“calçadinha de ouro”, a concorrida saída no término dos filmes, quando a ala
masculina tomava quase toda a extensão da calçada. Muitos namoros , que deram
até em casamento surgiram desses “flirts”,( como se dizia para os “paqueras” de
hoje)
Aos domingos, os passeios para o
gramados da Escola Agrícola aconteciam com frequência, ou então uma chegada ao
Mirante. A travessia ( a pé ) pela única ponte existente era considerada uma
aventura, pois a calçada era estreita; só existia uma pista, sendo que num dos
lados passava o trem. Não tínhamos acesso às dependências do Engenho Central,
pois ainda não se tornara o grande patrimônio cultural de nossa cidade.
. Nos dias de hoje, quando caminho
na área de lazer da Estação Paulista, observo o que restou da antiga estrada de
ferro, que teve papel importante no transporte até quase metade do século
passado: a sua fachada principal, os barracões e algumas casas, moradias que
eram cedidas a funcionários Os primeiros. estão bastante conservados, pois
constituem nos dias de hoje, rico espaço cultural e de lazer para os
piracicabanos..
Uma da lições de Sociologia que
nunca esqueci foi o que aconteceu e continuará sempre: a mudança, dos locais,
comportamentos culturais e sociais, como a única constante. E, embora tenhamos
saudade de muitas coisas, incluindo até valores sociais, lugares que se
transformaram, temos que concordar com essa afirmação.
Mas, isso não nos impede de sentir
saudade da nossa Piracicaba do século passado e trovar a eterna beleza da Noiva
da Colina!
Esta
cidade bendita
com
pôr do sol na colina
é
pra nós sempre bonita
seu
doce encanto fascina.
IPÊS
FLORIDOS
Valdiza
Maria Capranico
Nas últimas
semanas, nossa cidade amanheceu florida – Cada dia mais ... ipês colorindo, em
todos os cantos, enfeitando, tentando nos transmitir mensagens de paz, de
beleza, de gratidão a Deus, à vida.
Nesses tempos de quarentena, onde o
“ficar em casa” aguça nossos sentidos, sinto-me privilegiada por morar no alto
de um edifício e poder contemplar de minhas janelas, ipês floridos, ao longe,
enfeitando a cidade. E, em raras e necessárias saídas, ter o privilégio de
passar sob alguns...
Lembrei-me de fatos, ocorridos há muitos
anos; quando, em visita à nossa cidade, tive o prazer e a honra de receber e
acompanhar o Roberto Burle Marx, um dos maiores paisagistas do mundo (se não o
maior) e, ao passarmos pela Estação da Paulista, quis parar e observar o chão
da estação ... coberto de flores azuis, dos jacarandás mimosos que lá existiam
e muito enxofre, amarelo, esparramado no meio das flores... concluiu que aquele
espetáculo daria um lindo tapete (ele fazia tapeçarias maravilhosas).
Outro fato que me marcou bastante,
também, foi ao visitar um bairro nobre de nossa cidade, havia uma rua, numa das
quadras desse bairro, com ipês rosa floridos... a mim, pareceu estar entrando no
paraíso... tudo ali estava rosado... Mas, os moradores queriam retirar todos
eles, porque faziam sujeira... Voltei, alguns dias depois para ver a “sujeira”,
um tapete cor de rosa que cobria as calçadas desse quarteirão... achei lindo
demais... Voltei ao local, algum tempo depois e – para minha tristeza, haviam
retirado todas essas belas árvores...
Cada vez que vejo flores de ipê caídas
ao solo, me lembro dele e também dessa rua... e chego a conclusão que essas
belas árvores nos dizem, numa linguagem silenciosa, “deixo a vocês essas flores
para enfeitar seu caminho, ofereço a vocês esse maravilhoso tapete, para
colorir suas calçadas, suas praças”.
E, se quiser, puder, contemple um pouco
esse espetáculo... vale a pena... poder sentar-se, observar esses lindos
tapetes, agradecer a Deus por esse momento, foi o que me motivou ao receber a
foto, linda, de uma amiga querida, a Mônica...
A solidão fica mais leve quando
entendemos o quanto a Natureza pode fazer por nós...
PIRACICABA QUE
EU ADORO TANTO...
Lídia
Sendin
A lembrança mais remota que eu tenho
de Piracicaba é de um rio borbulhante que espalhava uma neblina molhada pelo
caminho que percorríamos para conhecê-lo, o famoso Mirante.
Isso
já faz muito tempo, década de 1960, quando visitei Piracicaba pela primeira
vez, trazida por meus pais, que pretendiam morar aqui, por conta do interesse
de meu irmão em Cursar Agronomia.
Lembro-me
que fiquei muito empolgada com o salto, com o véu da noiva, e contava a todos
os meus amigos e parentes de São Paulo, que eu ia morar perto de um rio tão
grande que até jogava suas águas para fora.
Acabei
não morando tão perto dele assim, mas saber que ele existia, e que com um
pequeno passeio de bonde eu poderia vê-lo, já me deixava o coração alegre.
Anos
mais tarde, eu mesma fui estudar no outro encanto de Piracicaba, a ESALQ,
quando cursei o Magistério e fiz o que se chamava, na época, Normal Rural.
Hoje
o rio não está mais tão bonito como era, mas Piracicaba continua linda, com
suas flores por todo canto. Eu mesma plantei aqui três das mais belas flores:
minhas filhas, que, nascidas aqui, me deram a o direito de cidadania mesmo
sendo eu uma estrangeira.
O RIO CONTA A
HISTÓRIA
Carmelina de Toledo Piza
Estou aqui desde quando os primeiros homens nesta
terra pisaram.
Quantos barcos eu senti por mim passarem?
Quantos pescadores suas redes jogaram?
Quantas pessoas pelos meus peixes foram alimentadas?
Estou aqui desde quando os primeiros homens nesta
terra acamparam.
Da minha história, lendas e lendas são contadas:
A lenda do rio, a lenda da noiva
E tantas outras lendas foram por mim encantadas.
Estou aqui desde quando os primeiros homens nesta
terra chegaram.
Fico aqui no meu acalanto
E todos os anos espero pelo encontro dos barcos...
É a festa do Divino Espirito Santo.
Estou aqui desde quando os primeiros homens nesta
terra pousaram.
E no barulhar da correnteza que canta
Ouço o som do batuque, o ritmo da umbigada e o
desafio da viola dos cururueiros
Para mais uma festa santa.
Eu sou este velho rio que é o lugar onde o peixe
para
Pelos Bonecos do Elias todo o tempo fui olhado.
Brincadeiras com boias e de meninos assisti
E no ano do aniversário da cidade preciso ser
cuidado.
Eu estou aqui...
Velho e cansado
Muitas vezes triste
Outras vezes amargurado.
Estou aqui desde quando os primeiros homens nesta
terra sonhos realizaram.
Mais um ano esta cidade o aniversário vai comemorar
Vidas e vidas vividas ainda quero homenagear.
Âncora
Carmen
Pilotto
Minha alma estacionou
aqui onde o peixe está...
E nessas misteriosas corredeiras:
ora abundantes, outras
ressequidas,
depositei meus sonhos e anseios.
Sigo a tortuosa margem do rio
com a placidez de pertencer a
aldeia
de um recorte feliz do
universo....
PAINEL
NOIVA COLINENSE
Ésio Antonio Pezzato
Lusco-fusco. No espaço as nuvens arruivadas
Pelos fachos de luz que o sol ainda golfeja,
Refletem mil painéis de telas esmaltadas
Num cromatismo etéreo e de paz benfazeja.
Extasiado contemplo essas telas pintadas
Pelo Pintor maior que mil cores bafeja
Sobre o etéreo dossel que as cores concentradas
– Fagulhas de ouro em pó! – sobre a terra despeja.
Sinto o sopro de Deus sobre a densa ramagem
E pareço fitar um oásis no deserto
Enquanto os ventos bons entre as roseiras agem.
Respiro um cheiro bom de alecrim e canela,
E frente a esse cenário imenso, largo e aberto
Cuido em tudo ver Deus da terra sentinela.
Lusco-fusco. No espaço as nuvens arruivadas
Pelos fachos de luz que o sol ainda golfeja,
Refletem mil painéis de telas esmaltadas
Num cromatismo etéreo e de paz benfazeja.
Extasiado contemplo essas telas pintadas
Pelo Pintor maior que mil cores bafeja
Sobre o etéreo dossel que as cores concentradas
– Fagulhas de ouro em pó! – sobre a terra despeja.
Sinto o sopro de Deus sobre a densa ramagem
E pareço fitar um oásis no deserto
Enquanto os ventos bons entre as roseiras agem.
Respiro um cheiro bom de alecrim e canela,
E frente a esse cenário imenso, largo e aberto
Cuido em tudo ver Deus da terra sentinela.
O PIRACICABA DOS
PAIAGUÁS
Francisco
de Assis Ferraz de Mello
Quanto crime
ante Deus, de pensar me comovo:
Agoniza
este rio que alimentou meu povo.
Quem
pode imaginá-lo, um dia, colossal,
Bufando
na floresta de um sol tropical?
Quem
pode imaginar que, um dia, em suas margens,
Dos
mansos animais até as onças selvagens
Foram
beber sua água, enquanto a passarada
Ensaiava
uma orquestra ou partia em revoada?
No
salto ele rolava altivo, encapelado,
sobre
o basalto negro, alteando um forte brado
Que
acordava o sertão de séculos atrás.
Abaixo,
no remanso ou, então, nas corredeiras,
Passavam
as canoas em bandos, ligeiras,
Levando
para a guerra os índios paiaguás.
RUA DO PORTO
Aracy
Duarte Ferrari
Íntimo ardente
Noite
enluarada
Avenidas
luzentes
Árvores
resplandecentes...
Os
pássaros chilreando
Recompõem
a melodia.
A
prosa, a poesia
Atingem
o seu clímax.
O
rio circunda
A
cidade e o coração.
As
águas correm...
Rutilantes
ao reflexo da lua.
Ondas
abundantes
Observadores
atentos
Inspirados
na quietude
Reflexões
distantes.
Uma
estrela cadente
Risca,
de repente
O
firmamento
Para
meu sobressalto.
NASCER EM PIRACICABA
Elda
Nympha Cobra Silveira
Nascer
aqui nesta Terra,
Qualifica-se pessoa melhor!
Nosso
dialeto é uma graça!
Dotados
de grande verve,
Deus
nos preserve,
Nessa
Terra de canaviais,
Pois
tudo aqui é demais!
Somos
um povo que canta,
Rima,
escreve, dança, e...
Até temos ginga.
Sem
precisar de nossa pinga,
Até trovamos
no cururu,
Que
talento!
Temos
faculdades, universidades
Que
nos deixam ainda maior!
MINHA TERRA
Francisco
de A. Ganeo de Mello (Buda)
Sou
de Piracicaba
A
“Atenas Paulista”!
Antes
de prosseguir,
deixem-me
explicar:
ter
nascido em Piracicaba
me
é motivo de grande orgulho
e
é por isso que coloquei
aquele
ponto de exclamação...
Minha
terra tem história
e
seu folclore é muito rico.
Temos
pintores famosos,
temos
músicos e cientistas.
Temos
praças bonitas,
Monumentos,
casarões,
preciosas
relíquias que contam
um pouco do nosso passado.
Muita
gente célebre
já
passou por minha terra.
Tivemos
um Thales de Andrade
um
Miguel Dutra e um Mello Moraes...
Diz
a lenda
que
até um rio
já
passou por minha terra!
(Minha
terra teve um bosque
Onde
cantou um sabiá!)...
A CATEDRAL DE PIRACICABA
Cássio
Camilo Almeida de Negri
Por muitos anos, suas torres
reinaram imponentes na praça central da cidade.
A simetria perfeita, encimada pelos
pontiagudos telhados hexaedricos, com as cruzes nos píncaros, como a conectar a
terra ao céu.
O relógio magnífico que eu, desde
criança, quando aprendi os algarismos romanos, nunca entendia o porque de seu
“quatro” ser quatro traços ao invés do “IV” ensinado na escola.
Hoje, coitada, foi esmagada por um
“pisão” do prédio ao lado. Um edifício só de garagens.
Piracicaba, quem deixou fazerem isso
com você?