Ivana Maria França de Negri
Remexendo em velhos baús de minha
mãe, reencontrei um espelho de mão que era dela, desses com cabo, que eram imprescindíveis
nos toucadores de antigamente. E eram lindos, decorados, servindo também de
adorno nas penteadeiras das mulheres.
Esse, da minha mãe, provavelmente era
francês, com vidro bisotado.
Ao tocá-lo, imediatamente algo
mágico aconteceu... Reportei-me ao passado e vi minha mãe, uma linda jovem de
cabelos negros e olhos verdes refletindo-se nele. Quantas vezes o fez para em
seguida encontrar-se com meu pai quando eram ainda namorados? Passava um pouco
de carmim nos lábios e um nadinha de rouge nas faces. E era só, não se usava
maquiagem pesada como hoje.
Esse espelho guarda muitas marcas do
tempo, em alguns pontos já está fosco, mas mantém sua beleza original. É bem
pesado, de metal maciço. O cabo, prateado, é todo trabalhado, assim como a
moldura em forma de losango. No verso dele, uma gravura delicada de um casal em
pose de dança.
Quantas vezes ele deve ter refletido
as faces de minha mãe... Me lembro de quando criança, gostava de pegá-lo na
gaveta da penteadeira para fazer uma brincadeira muito divertida. Colocava o
espelho sob o queixo, virado para cima. E ia caminhando. Parecia estar levitando,
pois tudo ficava de cabeça para baixo. Eu desviava dos lustres e pulava batentes das portas, tudo na imaginação
fértil de uma criança de uns cinco anos.
Espelhos existem há muito tempo,
objetos de desejo das mulheres, são citados até em versículos bíblicos. Foram
encontrados em escavações em vários locais do mundo. Eram fabricados
artesanalmente, e antes do vidro, eram de metal polido. As técnicas de produção
foram se aperfeiçoando e espelhos começaram a fazer parte até da segurança de
condomínios, da decoração, retrovisores de carros. Hoje em dia, ajudam as
garotas a fazerem selfies. Uma moda de gosto duvidoso, já que pessoas de certa
idade fazendo “bico” em frente ao espelho, não tem graça nenhuma.
Espelhos apareciam nos filmes de
cinema. Toda mocinha mirava-se num deles em alguma cena do filme. Sem contar
nos clássicos infantis, onde espelhos protagonizavam as histórias, como o
espelho da madrasta da Branca de Neve que tudo via e tudo sabia. Alice, a do
País das Maravilhas, aparece em uma segunda versão, Alice no país dos Espelhos.
Ela adentra na densa névoa de um deles e vive muitas aventuras onde aparece
tudo ao contrario, tudo invertido.
Tem gente que acredita que espelhos têm
magia e alguns deles se abrem para outros portais... Espelhos encantados que
transportam a alma das pessoas para outros mundos! Mas isso fica para uma outra
crônica, quem sabe...
Espelho mágico, espelho meu, existe
alguém mais sonhadora do que eu?...