(Em
homenagem à poetisa Maria Iraci Pinto falecida recentemente)
Ivana Maria França de Negri
Conheci essa guerreira há cerca de vinte
anos, quando eu fazia trabalho voluntário numa ONG de proteção aos animais.
Chegou na sede da entidade uma cartinha
muito bem escrita, com caligrafia de letra redonda e bonita, de uma moça
pedindo ajuda para castrar seus gatos porque era cadeirante e não tinha
condições financeiras. Eram muitos gatos que ela recolhia das ruas.
Foi assim que surgiu nossa amizade.
Fiquei sabendo que escrevia poesias também, lindos poemas que foram publicados
nos jornais por vários anos e muitos acabaram em livros.
Os temas de seus escritos eram sempre
sobre animais, sobre pessoas com deficiências e seus direitos, e ela era
impulsionada por uma sede de justiça muito grande, sempre abraçando causas
sociais, defendendo seus pontos de vista com ardor, e também sabia ser crítica na
medida certa.
E eu a reencontrei muitos anos depois no
Lar dos Velhinhos de Piracicaba...
Os mesmos cabelos ruivos, os lindos
olhos verdes e o ímpeto de mudar o mundo para melhor. Um derrame recente
tirou-lhe os movimentos das pernas e de um dos braços. Com o outro conseguia
realizar pequenas tarefas. Já não conseguia escrever, mas as ideias fervilhavam
em sua cabeça e ela sonhava escrever um novo livro, que poderia ditar para
alguém. E seria homenageando os moradores do Lar.
Essa grande batalhadora passou por
inúmeros percalços na vida mas jamais se deixou abater.
Viver é lutar sempre, cada dia
enfrentando um dragão diferente.
E nessa arte, ela foi mestra!
Um grande exemplo de mulher guerreira,
que amou a vida apesar de tudo.
Descanse em paz, querida Iraci, agora
livre das amarras do corpo, terá asas para voos mais altos...