Ivana Maria França de Negri
Viajar é um presente que nos damos, que
gatuno algum pode nos roubar.
E sempre que retorno de uma viagem,
gosto de escrever minhas impressões dos lugares que visitei enquanto ainda
estão nítidas em minha memória, pois com o passar do tempo, elas vão se
diluindo e só ficam mesmo as passagens mais marcantes.
Talvez, um dia, eu publique um livro com essas
crônicas de viagens para que meus netos possam ler e viajar comigo em minhas
narrações. Se minha avó tivesse escrito suas memórias quando veio de navio da
Itália para o Brasil, creio que seria emocionante demais tomar conhecimento de detalhes de suas
aventuras, pois a história familiar só nos chega oralmente e muitos dos
detalhes se perdem nos causos contados de geração em geração.
O Canadá, último torrão deste planeta
imenso que visitei, foi uma experiência maravilhosa. Mesmo não tendo a magia
dos países europeus, com seus séculos de história, museus e sítios arqueológicos,
esse país relativamente novo, e as grandes cidades como Montreal, Quebec,
Toronto, Jasper, Vancouver, são lindos, ostentando construções grandiosas como
os parlamentos e palácios. Mas é no oeste que a natureza se mostra mais
exuberante, com as Montanhas Rochosas, os montes glaciais de neve eterna e
centenas de cascatas, lagos e cachoeiras de indescritível beleza.
Viajar de ônibus pelas estradas repletas
de pinheiros e coníferas é emocionante! De vez em quando os ônibus param para
que os passageiros possam admirar um urso negro ou um grizzly pastando
sossegadamente na beira da estrada. Também pode-se avistar alces, cervos,
lobos, bisões, linces, águias e outros animais da rica fauna canadense.
Um fato curioso é ver como os asiáticos
são numerosos por lá, todas as grandes cidades têm um bairro chinês. E o
comércio de produtos chineses, como em outros países do mundo, prolifera.
Uma nota triste é que os indígenas,
primeiros habitantes daquele país, são marginalizados, vendem produtos
artesanais para sobreviver e alguns até pedem esmolas nas áreas centrais. Resta
uma população de mais ou menos um milhão de indígenas e seus descendentes em
todo Canadá.
Se há algo que encanta os turistas são
os canteiros de tulipas coloridas, jardins bem cuidados e perfumados, um
verdadeiro espetáculo para ser admirado e fotografado.
No Canadá, o índice de violência e
assaltos é quase zero, por isso muitos jovens escolhem o país para fazer
intercâmbio cultural e casais vão para trabalhar e construir a vida por lá.
É claro que também tem pontos negativos.
O comércio de peles de animais está em alta. Peles de urso negro, polar e
grizzly, além de peles de castores, lobos e raposas, são expostas em vitrines
de luxo, denotando o gosto duvidoso e a falta de compaixão das pessoas.
Nos hotéis 5 estrelas, todos os travesseiros
são de plumas de ganso. Eu me neguei a deitar neles, pois sei que a indústria
da retirada da penugem do peito das aves é cruel e dolorosa. E também, a cidade
de Calgary é famosa por ser a maior arena de rodeios do mundo. Nada é perfeito.
Se há flores e cascatas, há crueldade também.
Como tem muito assunto ainda, e coisas
interessantes para contar, vou concluir minhas impressões numa segunda crônica.
* Texto publicado na GAZETA de Piracicaba 20/06/17
Minhas impressões sobre o Canadá II
Ivana Maria França de Negri
Os ursos, animais imponentes e
maravilhosos, são símbolos do Canadá. Estão em todos os souvenirs, panfletos,
na versão pelúcia para as crianças, mas também, há o lado negativo: têm suas
peles comercializadas e a caça é permitida
Quando fizemos um safári fotográfico num
bote, através do rio, no meio da bela floresta de coníferas, o guia comentou
que os ursos, mesmo estando numa reserva, podem ser abatidos por caçadores que
tenham licença para fazê-lo. Eles podem caçar um urso por ano, independente da
época, mediante uma taxa. Fiquei chocada, pois até os chapéus da guarda da rainha
da Inglaterra ainda são confeccionados com pele de urso negro do Canadá, mesmo
sob protestos dos ecologistas e da Stella Mac Cartney, integrante do PETA,
filha do Beatle Paul Mac Cartney, que luta para que essa tradição seja quebrada
e utilizem versões sintéticas, afinal, a tecnologia avança, mas as tradições,
mesmo as mais cruéis, são mantidas.
Mas no todo, o Canadá é um país
maravilhoso que merece ser visitado. Tem paisagens de sonho, centenas de cascatas
e cachoeiras, lagos de águas azuis turquesa, outras verde esmeralda, geleiras, pinheirais
e florestas de coníferas. É
um país bilíngue e multicultural, com o inglês e o francês como línguas oficiais.
A pequena cidade de Banff é uma das mais
lindas que conheci, rodeada de montanhas nevadas e construções belíssimas.
Subindo de teleférico aos picos mais elevados, pode-se caminhar nelas e fazer
uma guerra de bolas de neve em plena primavera!
Em Toronto, uma atração imperdível é a
Torre CN 360º, que já foi a mais alta do mundo por trinta anos. Agora não é
mais, construíram outras mais altas. Mas não perdeu o encanto e almoçar no
restaurante da torre é obrigatório para os turistas. O restaurante foi
construído sobre uma base giratória e até terminar a refeição, dá-se a volta
completa, por cerca de uma hora. A paisagem, com vista para as cataratas é
encantadora, e é possível ver Toronto por todos
os lados.
As cataratas do Niágara, espetáculo à
parte, são coloridas por arco-íris naturais de dia, e à noite, luzes artificiais
a colorem de vários matizes. Ir de barco até pertinho dela e tomar um banho,
mesmo no frio, não tem preço!
No interior da Basílica de Notre Dame,
em Montreal, apresentam um espetáculo de luzes, música e cores chamado “Aura” que é indescritível, de
uma beleza ímpar. Na bela nave da igreja, são projetados fachos de luzes e
imagens, sincronizados com músicas celestiais. Parece que somos transportados
para regiões mágicas de encantamento. Só mesmo assistindo, não tem como
descrever, uma experiência única.
Não se pode deixar de mencionar a folha
de bordo vermelho, que é parecida com o plátano da Europa. Ela está em tudo,
até na bandeira canadense. Da árvore, extraem uma espécie de melaço doce,
presente nos bolos, biscoitos, pratos típicos e até nas saladas. Tem sorvete,
pirulitos, e uma espécie de panqueca regada com essa seiva adocicada que comem
no café da manhã. Ninguém volta do Canadá sem trazer ao menos um vidrinho do
xarope, Maple Syrup, uma espécie de mel menos encorpado.
Depois de nos fartarmos das paisagens,
flora e fauna, da cultura e da gastronomia, bate aquela saudade do nosso arroz
com feijão, do nosso cafezinho forte, e do nosso Brasil amado, apesar de todas
as mazelas, da corrupção e violência que enfrenta.
Mas tenho esperanças de que um dia isso tudo
vai acabar e teremos nosso gigante de volta. Até a próxima viagem!
( Texto publicado na Gazeta de Piracicaba)