As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

quarta-feira, 29 de março de 2023

O mundo é das mulheres

Olivaldo Júnior

 

As mulheres me abençoam

e me fazem ser melhor;

são Marias que me entoam

cada verso meu de cor.

 

Vão girando com a Mãe Terra,

na ciranda a cirandar...

Não queriam mais ver guerra,

nem o povo se matar.

 

Dando à luz bilhões de filhos,

as mulheres são as "Evas"

que enfrentaram "mil" exílios.

 

Hoje, o mundo é delas, filho,

das mulheres, antisservas,

condutoras de seu "trilho".

quarta-feira, 22 de março de 2023

Menina mulher



Daniela Daragoni Alves

 

Você me olha e acha que ainda sou uma menina

Mas não,

meninas tem só sonhos e eu tenho muito mais

guardado dentro do meu coração.

 

Você me olha e ainda acha que sou uma menina

Mas eu mudei

Hoje eu dou valor a cada vitória que a vida me trouxe

a família que eu tenho, as amizades que conquistei

 

É claro que algumas coisas não mudam

a trança no cabelo, o all star preto no pé

Raul Seixas tocando no rádio

meu caráter ...e a minha fé.

 

É ...o tempo passou rápido

E não me deu nenhum desconto

Ontem eu tinha 15 anos

Hoje já tenho vinte e tantos...

 

Você me vê e acha que ainda sou uma menina

Mas não, sou mais do que pode ver

Sou uma menina que o tempo moldou e transformou em mãe e esposa.

Sou uma menina que cresceu e virou mulher!

quinta-feira, 16 de março de 2023

Contemplação é para leigos

 



             Bianca Rosenthal

            Aconteceu comigo algo que muitos também devem ter passado por situação parecida. Estava num passeio desses contemplativos para observação de aves. É sabido que nestes tipos de passeio o silêncio deve imperar. O guia para em pontos específicos para esclarecimentos de dúvidas, mas, na hora em que os pássaros são avistados não se deve fazer barulhos e movimentos bruscos, para não espantar os belos animais.  O objetivo é observar, contemplar, fotografar. 

            No entanto, aquele tipo de pessoa que quer ser o centro das atenções estava no meu pequeno grupo. O candidato ao prêmio de intelectual do ano não parava de falar um minuto sequer, de tudo um pouco, era um perfeito conhecedor de todas as coisas do mundo e uma pessoa que merecia respeito por tanta cultura, sabe? Ele já tinha dado de cara com um urso no Alaska, era amigo do governador, já tinha conversado pessoalmente com a rainha da Inglaterra, ensinou vários pratos de comida ao Rodrigo Hilbert, falava cinco ou seis línguas, sabia tudo sobre a bolsa de valores, bitcoins e outros investimentos, fazia tempo que não usava a sua lancha de primeira classe, degustou os melhores vinhos do mundo acompanhado de modelos famosas etc. 

            Eu procurei manter a calma até o momento que lhe perguntei: “você gosta de aves?”, ao que o ser iluminado me respondeu: “claro que gosto! Tenho algumas exóticas que mantenho em gaiolas na minha casa. As visitas ficam impressionadas, mas não conte para a Polícia Ambiental”. E riu! O sujeito riu! 

            Foi um teste de paciência que me rendeu a lição: contemplação é para leigos. É para gente que ainda tem muito a aprender. Lembrei-me da frase de Epicteto dita há mais de dois milênios: “É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe”. Para o bem da minha saúde mental abandonei o passeio sendo acompanhada por uma pessoa da equipe de apoio até o início da trilha. À tarde recebi uma chamada do guia me dizendo que fazia questão de me acompanhar no dia seguinte sem taxas extras. Então fui. Quietinha e sem a necessidade de me exibir, observei cada detalhe, contemplei a beleza das penas, cores, cantos e tirei lindas fotos das aves livres na natureza. 

domingo, 5 de março de 2023

SEM PLATEIA



Shirley Brunelli Crestana

 

Esta noite estarei só

Despojada de todos os medos.

Ninguém aqui entrará

nem a dor que bate

recostada à minha porta

nem a solidão

andarilha da noite alta.

Quero sozinha

ser o alvo

           ser a festa

                  sem ensaio

    sem motivo.

Apenas eu

cara lavada

corajosa

renascendo de mim mesma

como quem sabe o que quer

assim meio bicho meio gente

mas

acima de tudo: Mulher! 

 

sábado, 4 de março de 2023

EMMA *

 


Christina Aparecida Negro Silva

Debruçada no parapeito da janela da velha casa, ela olhava ao longe...olhos miúdos, pesados pela idade, porém brilhantes, pois voltava seu olhar para outro tempo, outro espaço, para dentro de sua vida de outrora, rica memória.

Via-se menina, de avental xadrez, carregando o ovo quente no bolso do acessório para a mamma grávida do irmãozinho que nasceria brasileiro. Via-se rindo... uma largueza de dentes bonitos a encantar o cozinheiro que, escondido, entregava o alimento durante a travessia do navio da Itália para o Brasil.

Ao piscar de olhos, via-se mocinha, enamoratta  de Victório, primo amore, com quem teve 12 filhos e muitos netos. Via a netinha, da filha mais nova, sentada em seu colo na cadeira de balanço, embevecida com suas histórias.

Quantas saudades! Saída ainda menina de sua terra natal, apreensiva em um país de língua e costumes diferentes dos seus, apesar do aconchego dos pais e irmãos, descobriu-se uma mulher forte, decidida a lutar contra as vicissitudes com maestria. E quantos percalços enfrentou no início do século XX, que nós, hoje, nem fazemos ideia!  Sem energia elétrica, passava a ferro em brasa a única camisa que seu marido tinha. Lavava-a à noite e de manhãzinha, já limpa e passada, ele a podia vestir para o lavoro. Criou seus filhos, ajudando seu marido na lida com tijolos de barro. Sim, ela também carregava a matéria prima para construir seu sonho, sua vida, seu país.

Enfrentou a Revolução Constitucionalista de 32, abrigando os soldados paulistas na disputa contra os mineiros, pois morava quase na divisa entre os dois estados. Agradecia a Deus por não haver visto nenhum derramamento de sangue por ali, apesar da tensão do conflito. Os bonitos moços de farda, segundo uma das filhas, só se hospedaram na grande casa, desfrutando da mesa farta e gostosa. Nessa época, a situação financeira estava mais estável com a fábrica de cerâmica produzindo para uma crescente população tambauense.

Aos 60 anos, perdeu uma das vistas para o glaucoma, o azul do olhar como o mar mediterrâneo foi substituído por uma prótese de porcelana, tão perfeita que enganava até os filhos que sabiam desse procedimento cirúrgico. A imagem de Santa Luzia, carregando os olhos no pratinho, era sua relíquia. 

Tanta vida deixou às gerações que a precederam. Muitas histórias de família, de risos alegres nos almoços festivos, de superação em situações difíceis, também de momentos de dor e perdas de entes queridos, da música de todos de sua família. Marido maestro ensinou a Arte aos filhos, netos e formou uma bela banda na cidade; a todos que queriam aprender música, tinha prazer em ensinar de graça. Tocava violino nos incipientes cinemas de então, enquanto era necessário esfriar a tela de projeção.  A eterna saudade do companheiro que, dizia ela, vinha cobri-la todas as noites de frio por longos anos, mesmo depois de morto.

Quando lhe perguntavam se gostaria de voltar para rever seu país, respondia com um categórico – No...o Brasil é mio país. 

Recordar da minha nonna me traz muitas saudades e também deixa meu coração cheio de gratidão por ter me  permitido dar continuidade ao seu legado de amor por minha pátria, por gostar de música, de contar histórias, de comida italiana e ter muito respeito e reconhecimento pelos imigrantes ( de todas as nacionalidades) que fizeram o  Brasil.

* Texto Premiado em segundo lugar no Concurso Literário Viajando na Leitura, organizado pela Academia Piracicabana de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba