Pedro
Israel Novaes de Almeida
A vida não deveria ser tão
complicada.
Nascer, e sobreviver até morrer, é a
rotina de todos, sejam insetos, plantas, animais e todas as espécies que vivem
sobre a terra. Mas a busca do suprimento das necessidades básicas e do
perambular pelo mundo jamais contentou a humanidade.
No início, bastava caçar, pescar e
coletar o que a natureza oferecia. Com o tempo, o homem passou a criar e
plantar, aumentando a segurança da alimentação.
Ainda nas cavernas, alguns poucos
inventavam utensílios e exerciam artes que embelezavam olhos e ouvidos. Mas o
instinto de domínio, do espaço e pessoas, sempre esteve presente, gerando as
castas que cuidavam de atacar, defender ou simplesmente planejar ações.
Os que trabalhavam e seguiam rotinas
naturais foram forçados a sustentar os novos estratos, e a vida começou a
perder parte de seu encanto, pois haviam os mandantes, poucos, e os mandados,
muitos. Até deuses foram criados, alguns bons e outros ruins, que adoravam o
sangue de oferendas, inclusive vivas.
Aos poucos, surgiram pessoas que
conseguiam sobreviver sem nada produzir ou mandar. Descobriram que, compondo
uma corte ao redor dos que mandavam, seriam protegidos e estariam livres do
trabalho.
O aumento da população e as
necessidades de convívio entre multidões geraram a estruturação de sociedades,
algumas pacatas, e outras dominadoras e escravagistas. A história cuidou de
modificar os grupos humanos, gerando progressos ou agravando problemas.
Mais que as intempéries climáticas
ou fenômenos naturais, a humanidade sempre foi vítima de sua própria
representação, e os povos que conseguiram sistemas políticos civilizados
experimentaram períodos de calmaria social e educação respeitadora.
O mundo acabou abalado pela divisão
entre a esquerda e direita. A esquerda julgava que qualquer opressão era
válida, para garantir comida e bebida a todos. Os homens deveriam ser iguais, e
a sociedade sem patrões.
Os novos patrões passaram a ser os
filiados ao partido único, poderosos que não podiam ser desobedecidos. A
direita iniciou pregando que a comida e bebida eram necessidades a serem
supridas pelo empenho pessoal de cada um, e os novos patrões, salvo um ou outro
líder natural de breve mando, eram construídos pela atuação de detentores de
riquezas.
A humanidade conseguiu livrar-se de
alguns sistemas opressores, de direita e esquerda, e muitas sociedades
descobriram que é possível garantir comida e bebida, e permitir a ascensão
social, sem fuzilar ricos ou exterminar pobres. Em todo o mundo, o antigo
estrato, dos que nada produzem e vivem formando cortes ao redor dos que mandam
ou possuem, permaneceu intocável e próspero.
Os saqueadores de cavernas perderam
a rusticidade, e hoje saqueiam recursos públicos, desarmados e com ares de
respeitáveis cidadãos. As novas guerras de conquistas de hoje já não visam
territórios, mas órgãos e instituições.
Das cavernas aos computadores,
ocorreram muitas mudanças, mas a humanidade continua a mesma, premida pelos
mandantes e membros da corte que a oprimem. Infelizmente, nossos irmãos das
cavernas não souberam entender e reagir às castas que viram nascer.