As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

segunda-feira, 10 de maio de 2021

ANEL





Maria Madalena Tricanico de Carvalho

A música era animada e muito antiga. Todos cantavam ou tentavam cantar acompanhando os músicos ou a capela mesmo.
Sentei ao seu lado e ela me olhou sorrindo. Eu também sorri. Ela olhava para mim e para o anel fantasia, mas nada discreto, em seu dedo como se quisesse que eu notasse logo, imediatamente,
- Que  anel charmoso! Bonito né!
- Ganhei do meu namorado! Quer conhecer ele? É aquele ali!
Olho para o rapaz que ela  me mostra e vejo que é um dos cuidadores ainda bem jovem em relação a divina plateia  de idosos.
- Sabe, quando eu era moça gostava muito de namorar. Namorava moço bonito e bem  apanhado!
Apanhado!  Que eu saiba não tem arvore de namorado para que se possa apanhá-los!
- Não boba! Apanhado é bem apessoado!
- Ótimo! Entendi, agora é mauricinho!  Então você era chegada num namoro quente, cheio de abraços e beijos.
- Não! Vou explicar  como era o namoro no meu tempo de moça: íamos no jardim do centro e os homens davam a volta pelo lado de fora e nos mulheres pelo lado de dentro e trocávamos olhares. Quase sempre eram assim. Teve colegas minhas, que namoravam rapazes e as vezes eles nem sabiam.
Ah! Entendi quando ela me mostrou seu namorado que tinha lhe dado o anel. Isto era mesmo “em algum lugar do  passado”.
-Quando você permitia que o rapaz se aproximasse  para conversar o namoro ficava sério e era para casar, por isso tenha que pensar bem para não ficar falada.
- Então você teve vários namorados de olho no olho e nada mais? E sobre casamento? Com quem você casou?
- Não quero falar sobre isso. Meu namorado é ciumento.
A música alegre envolvia todo o salão e os cuidadores iam preparando os idosos para voltarem para seus aposentos e depois iriam almoçar.
-Está bem! Não vamos falar do passado. Você gosta de morar aqui no Lar junto com os idosos?
-Gosto! Gosto muito! É muito alegre e divertido! Posso rezar, se eu quiser, cantar,  passear só um pouco com ajuda do meu namorado....
Enquanto eu prestava atenção nesta velhinha simpática e de bem com  vida ia observando os acolhidos saindo do salão de acordo com suas possibilidades: com suas próprias  pernas, apoiados  por cuidadoras,  em cadeiras de rodas...Minha amiga ficava ali  tranquila sentada em sua cadeira e para surpresa minha o cuidador, seu namorado, chegou e com todo o respeito perguntou:
- Quer ir agora? Ajudou-a a se levantar, deu o braço e ela com dificuldade foi andando amparada pelo braço forte e jovem do seu namorado secreto  e me olhando  atrevidamente “vou com meu namorado e você?”,  como se eu fosse uma de suas companheiras da comunidade.

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