Elda Nympha Cobra Silveira
Não sabia que iria nascer e irromper pela fissura da terra
na montanha. A mãe Terra se abriu e devagarzinho, como se fosse despejar um
dejeto de suas entranhas lentamente, aos poucos, mais forte, mais forte, foi surgindo
como uma nascente.
Deslizando e dando os primeiros passos, foi se espalhando
meio titubeante, até com o tempo tornar-se um regato. Transpôs vales e matas
verdes e sombreadas onde somente havia paz e sossego. O corpo líquido era
fresquinho e transparente. Aos poucos peixinhos nadavam acompanhando a massa de
água nessa viagem prazerosa, margeando vales, prados e matas, quando saciava a
sede dos animais que vinham à sua procura e ganhavam seu retrato ao se
debruçarem nas suas margens, através do reflexo de suas cabeças e corpos.
Depois de saciados, se afastavam pisando firme empolgados com suas belas
imagens refletidas naquele cristalino espelho.
Outros ribeirões se juntaram e engrossaram o regato, que
passou assim à categoria de rio. Por causa de seu caudal transportava barcos de
passeio e de pesca e todos amavam,
aquela bonita corrente de água, que era muito útil para o transporte de
víveres. Os barcos e iates grã-finos desciam e subiam aquelas águas e iam
ouvindo durante à viagem todo gênero de conversa, desde os causos do pescador,
do trabalhador rural, do fazendeiro ou do turista, cada um dentro do seu tipo
de assunto e vocabulário.
Com tanta experiência de vida, aquela massa de água começou
a sonhar com o seu destino e descobriu que um dia encontraria o mar, onde
haveria outros tipos de peixes, de pessoas, transatlânticos de luxo e as
margens seriam de outros países que nunca havia visto.
Ansiando por esse destino começou a correr cada vez mais, e
mais, deslizando, formando cascatas, como se empurrasse um tobogã, naquelas
alturas vertiginosas. Ufa! Enfim, o rio e o mar se tornaram um só e eles
conheceram juntos centenas de seres marinhos e as conchas recheadas de perolas.
Então, misturado com as águas marinhas, descansou nas areias amarelinhas, e cheias
de crianças e jovens lindas, que tomavam sol e acariciavam as ondas que
quebravam nas praias de muitos países.
Em alguns momentos aquela corrente de água doce, além de se
sentir muito maior, tinha momentos de mau-humor, por causa da lua, que lá no
céu, bem longe, insistia
em brigar com ele. O caudaloso rio transformado em mar convivia também com as
estrelas que não eram do céu, mas do mar. Pensava que naquelas lonjuras, tudo
era muito diferente do tempo em que ele tinha margens, onde os pássaros eram outros
muito diferentes das aves marinhas que voavam acima daquele rio que agora era
parte do mar... Mas ninguém deixa de pensar no passado e sentir saudades do
tempo em que ele era apenas um regato inocente, a procura de novas
experiências.
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