Dulce
A.S.Fernandez
Oh! sol! que no tear dos dias
Eclodes a repartir calor, claridade...
Mandaste um de teus ramos
Tão acariciante! Solto e
alegre,
Entrou pela antiga janela da sala
E, docemente, amenizou as dores
Da idosa e sonhadora senhora.
E de dourado ia
se pintando a tarde.
Curioso, cheio de feixes de ouro
Inundou a sala de luz.
- Mas que lindo!
Disse ela
Olhando as flores iluminadas
No jarro de violetas sobre o linho
Bordado delicadamente de fios de seda.
O envelhecer deu-lhe tanta formosura:
No vestido de chita estampadinha;
No alto da cabeça, um
birote;
Olhos cor- de- rosa teciam lembranças.
Naquele aposento, vestido de silêncios,
Brotaram recordações de
tempo tão distante...
Na arca dessas
recordações
Mil cancelas foram abertas.
E, o raio de sol, admirado, envolvente,
Ouviu histórias
mirabolantes:
Festa de tempos dourados;
Grinalda banhada de perfume
Matizada com explosões de amor.
E o coração grisalho foi cantando
Sonhos, verdade, morte,
Que, se juntaram, se entrelaçaram
Na misteriosa beleza da vida.
Na poltrona, a boneca de feltro
De olhos de contas
sorri;
No quadro da janela aberta,
Visão do belo jardim,
Nas roseiras, brilha um novo rocio;
E numa nesga do céu,
Súbito, passam aves
Formando um bando triangular.
Emocionado, o ramo de
sol, em despedida,
Oscula a face da encantadora senhora.
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