Cartinha ligeira endereçada à Saudade
Olivaldo Júnior
Querida Saudade
Sei que anda sem tempo para este poeta, este ser que lhe escreve meio às pressas, na hora do almoço, entre uma e outra garfada de arroz com feijão, marmita preparada pela mãe, que tanto amo, tanto a marmita quanto a mãe, é claro! Mas, se tiver um tempinho para mim, por favor, me deixe cumprimentá-la em seu dia. Sim, hoje é o Dia da Saudade! Sabia disso, menina? Inventaram um dia para você, só para lembrar que você existe e faz parte da vida.
Já me nomearam de poeta do adeus há um tempo. Não acho que o seja, mas nomenclaturas e alcunhas são algo que não se escolhe. Assim, ao lado de Vinicius, de Cecília, de Bandeira, de Drummond, de Quintana e de tantos poetas cânones da Poesia dita Brasileira, saúdo você, Saudade, com as letras que aprendi na Escola! Saudade da primeira professora, Dona Zizinha, com quem a aprendi a ler e a escrever. Nem mesmo eu sabia que era poeta.
Poeta, aliás, de forma geral, Saudade amiga, é amigo de você, que tanto ajuda a gente a ter assunto, afinal, como dizia Cecília, a Meireles, ”De que são feitos os dias? / - De pequenos desejos / vagarosas saudades, / silenciosas lembranças.”. Ê, Cecília, sempre certeira! É isso mesmo. Nossos dias são feitos de reminiscências, retalhos de vida que alinhavamos um no outro, para, ao fim da existência, na “noite da vida”, termos “coberta”.
Sinto, amiga Saudade, muita saudade do que não fui, não consegui ser. E, além disso, da minha avó materna, dos meus avôs, da minha infância, quando eu não sabia nada de nada, e a vida era um acordar e ir para a escola, voltando para casa recolhendo flores de buganvília, a famosa primavera, só para ofertá-las a minha mãe ao chegar em casa. Saudade... Soluço abafado, lágrima exposta e logo enxuta, mas nunca estanque. Saudade, a grande saudade!
Meu irmão pequeno, minha vida em cores, meu amigo que não chegou (meu burrinho azul, já que eu sou o menino azul, hehe), noites em que vi uma estrela cadente descendo à Terra, saudade, oh, Saudade, dos sonhos mais puros que não deram em nada! Sopro de ausência sobre todo o presente, você, Saudade, soluça comigo quando os olhos marejam e me perco em mim mesmo, no mar absoluto em que navego e, saudoso, transponho o meu mar.
Com saudade,
de algum lugar do passado,
Olivaldo
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