As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

NOSSO CARNAVAL


Elda Nympha Cobra Silveira

O Carnaval brasileiro é muito diferente daqueles que existem em outros países, talvez porque o nosso tem nas suas origens, a influência da cultura dos escravos africanos, que nos legou ainda, costumes sociais, gastronômicos, artísticos e religiosos. Nos carnavais estrangeiros, se bem que, atualmente, tenham inserido nestas festas muito da cultura brasileira, a música é morna, o ritmo é um hiato entre o minueto e o rock, ou entre o reagge e o soul music. Nada que tenha sequer longínqua semelhança com os instrumentos usados nas nossas escolas de samba, como o surdo, a cuíca, pandeiro, ganzá, reco-reco, tamborim, e muitos outros.
Não tenho nada contra uma festa de Momo sem samba, sem batucada e sem mulatas, ingredientes imprescindíveis, desde os primórdios do Carnaval brasileiro, definido, desde os tempos coloniais como um rito de passagem, uma grande brincadeira, que se iniciou, longinquamente, com os afoxés, de fundo religioso, e por isso mesmo, proibidos e combatidos severamente, e mais modernamente, os entrudos, que eram uma festa de rua, da qual participavam ricos e pobres, brancos e negros.
A partir da década de 20, as guerras de limão-de-cheiro, de farinha de trigo e de água perfumada, que tinham tornado o nosso tríduo momesco inconfundível, ganha os salões dos ricos senhores de engenho e das famílias abastadas para tornar lendários o baile carnavalesco e as marchinhas, músicas alegres, despretensiosas, que satirizavam a vida e a política de forma ácida e mordaz. Chiquinha Gonzaga foi a precursora das marchinhas, que hoje puxam o cordão infinito de milhares de composições e centenas de autores, como Ary Barroso, Zé Ketty, Braguinha, Colombina e muitos outros.
Nos carnavais aqui de Piracicaba dos anos 40 e 50, o ponto alto era o corso, uma espécie de desfile de carros de passeio pelas ruas da cidade. Certa vez, no Bairro Alto foi construído um leão enorme para ornamentar o caminhão da “Turma do Leão”, que participava anualmente do corso e usava o slogan “Sossega leão!” Um outro carro foi ornamentado como o quarto de harém, com sultão e lindas odaliscas recostadas em almofadões de cetim, semi-escondidas atrás de cortinas transparentes, para ilustrar a letra da marchinha: “Vem odalisca pro meu harém/Vem, vem, vem./Faço o que você quiser/Pelas barbas de Maomé/Não olho mais para outra mulher”. Tudo tão simples e tão modesto, que hoje pareceria até ridículo, como a brincadeira de espirrar jatos de lança-perfume da marca “Rodouro” nas partes íntimas dos brotinhos, que se arrepiavam e soltavam gritos por causa do líquido gelado.
O moderno Carnaval perdeu toda a sua ingenuidade e se transformou em mega-espetáculo, exclusivo para turistas, como podemos ver nos luxuosos desfiles que engalanam os sambódromos do Rio e de São Paulo. Nada que possa lembrar, nem de longe, o deslumbramento dos desfiles de Piracicaba, aplaudidos entusiasticamente, por seus carros alegóricos muito bem feitos, ora a réplica singela dos nossos bondes, ora um carro mais luxuoso, que desciam a Rua Boa Morte.
Na década de setenta o carnaval de rua de nossa cidade era um dos mais comentados do interior. Famílias inteiras da sociedade local desfilavam nos carros alegóricos, ou no chão, mostrando muito samba no pé, num grande congraçamento, muito descontraídos e eufóricos. Lembro-me de uma comissão de frente formada por homens elegantemente vestidos de smoking e cartola. Nessa época, vinham para cá muitos artistas globais, como o casal Tarcísio Meira e Glória Menezes, Hélio Souto e Pepita Rodrigues, o jornalista Giba Um, o jurado de TV Décio Pitinini e muitas outras celebridades da capital e de cidades vizinhas, para assistir e participar dos desfiles de rua e curtirem os bailes do Clube Coronel Barbosa, que era muito prestigiado.
Foi uma época marcante do nosso carnaval piracicabano, que teve a Neidona como a foliã por excelência, e as escolas de samba, entre elas a Zoom-zoom e a Equiperalta como as instituições que sempre procuraram manter vivo o nosso carnaval!


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