Ivana Maria
França de Negri
Uma das
passagens bíblicas mais belas se encontra em Eclesiastes 3:1-8.
“Tudo
tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há o
tempo de plantar e o tempo de colher, o tempo de chorar e o tempo de rir, há o
tempo de amar e o tempo de odiar, há o tempo de falar e o tempo de calar, o
tempo de construir e o tempo de desconstruir, há o tempo de espalhar pedras e o
tempo de juntá-las, há o tempo de guardar e o tempo de jogar fora, há o tempo
da guerra e o tempo da paz, há o tempo de abraçar e de se distanciar, há o
tempo de viver e o tempo de morrer...”
E
eu acrescentaria muito mais... Há o tempo alegre da infância, o tempo dos
arroubos da juventude e o tempo da reflexão na velhice. O tempo das pernas
fortes para caminhadas e o tempo de pernas trêmulas, que precisam do auxílio de
uma bengala.
Há
o tempo da estiagem e o tempo das cheias, o tempo da escassez e o tempo da fartura.
O tempo da luz e o tempo da escuridão.
Há
o tempo da crise e o tempo da bonanza. O
tempo de vociferar e o tempo de silenciar. Há o tempo de trabalhar e o tempo de
aposentar. Há o tempo de sonhar e o tempo de tornar real.
E
nenhuma folha cai de uma árvore sem que tenha chegado o seu tempo.
E essa alternância é que faz a magia
da vida. Só podemos dar valor às coisas quando elas nos faltam. Se não
tivéssemos a escuridão, não daríamos valor para a claridade.
Quando
chove bastante, sentimos falta do calor do sol. Mas quando o sol é causticante
por dias ou meses seguidos, e a chuva chega, dizemos que é abençoada.
Brigamos
e implicamos com as pessoas que vivem sempre ao nosso lado. Mas quando, por
algum motivo, vão para bem longe, sentimos uma saudade imensa e queremos sua
presença de volta.
Aprendemos
com a vida que nossa ligação com as coisas existe por um tempo apenas, jamais
será eterna. No Budismo, usa-se o termo “impermanência” para essa experiência
de ligar-se e desligar-se de todas as coisas. O Tempo conta o tempo diferente
de como contamos nosso tempo.
Até
um relacionamento amoroso, que foi rotulado de “felizes para sempre”, um dia
cessa, seja porque a paixão esfriou, o amor declinou, por desgaste, ou mesmo
pela maneira mais drástica, a morte. A vida é a coisa mais impermanente que
existe.
E
tudo é perfeito e maravilhoso em sua impermanência.
E
tudo é milagroso e justo, porque os ciclos se alternam. Existe um ditado
popular que diz: “Não há bem que sempre dure e nem mal que seja eterno”.
Tudo
é temporário, transitório e efêmero.
Nada
é para sempre. E nem deve ser.
* texto publicado na Gazeta de Piracicaba
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