Ivana
Maria França de Negri
Finalzinho dos anos dourados, 1967.
Eu, pré-adolescente, com doze primaveras
incompletas. Os festejos do Bicentenário de Piracicaba, nessa época, me
marcaram profundamente.
Nossa Noiva da Colina era ainda uma
cidade interiorana onde quase todos se conheciam. Mas crescia muito depressa
sob o comando do dinâmico prefeito Luciano Guidotti.
Não havia shoppings e os pontos de
encontros da juventude eram na saída da missa da Catedral, em algum barzinho,
como o Karamba´s Lanches, nos cinemas como o Politeama, Palácio e Broadway, na bombonnière do Passarela ou no Jardim da
Cerveja.
Os Beatles eram os ícones, e o iê-iê-iê
e a Bossa Nova encantavam os adolescentes.
O movimento “Paz e Amor” dos hippies, se
alastrava, e aumentavam as comunidades que rejeitavam produtos
industrializados, o consumismo desenfreado, pregando o fim das guerras e
ampliação dos direitos.
Tempo de passar as férias escolares em
Santos, descer a serra de fusca, o que era uma aventura! Nem se falava em cinto
de segurança e a criançada se espremia
no porta-malas que ficava dentro do carro. Uma festa!
As bebidas eram Crush e Cuba-Libre.
Crianças não tomavam Coca-cola, só em ocasiões especiais. Bebiam laranjadas e
limonadas que suas mães e avós preparavam, geralmente com as frutas colhidas
frescas no pé, do quintal das residências.
Nossa casa estava um alvoroço porque
minha irmã mais velha, Maria Graziela,
aos 15 anos, tinha sido convidada para participar do concurso que
elegeria a Miss Bicentenário. O baile de gala seria no Clube Coronel Barbosa, o top da cidade na época. Tempos de
black-tie, smokings e ternos feitos sob medida com coletes, camisas com
barbatanas, abotoaduras e vestidos vaporosos, rendados e bordados. Os convites
para os bailes de gala pediam traje a rigor. E os que não estivessem de acordo
eram barrados nas festas.
Os penteados eram bem elaborados,
coques, cachos, apliques e litros de laquê, que os mantinham firmes, duros, sem
desabar. Os “play boys” usavam cabelos bem compridos, uma afronta aos mais
velhos, adeptos do corte quase zero dos barbeiros. Também havia os que usavam
topetes à La Elvis Presley.
As roupas seguiam o estilo da atriz
Brigitte Bardot, tubinhos e minissaias. Já para os rapazes, quem ditava a moda
eram os Beatles, o famoso quarteto de Liverpool, com blusas de gola role e
terninhos de pernas ajustadas.
Minhas tias, modistas finas – naquela época
não havia muita opção de roupa pronta para comprar – sempre a postos com suas
fitas métricas, tesouras, agulhas e linhas. Confeccionaram um lindo vestido
para minha irmã que foi aclamada pelos jurados como a mais bela, sendo eleita a
Miss Bicentenário de Piracicaba, recebendo o cetro, a capa e a coroa, que
seriam dela por cem anos!
Eu não podia frequentar os bailes por
conta da pouca idade, mas ficava “nos bastidores” participando de tudo. Para
mim foi tudo muito mágico!
O tempo passa célere, mas não apaga as
lembranças que ficam indelevelmente impregnadas em nossa memória. Saudades de
minha mãe, das minhas tias e de um tempo que não volta mais.
E Piracicaba, no auge dos seus duzentos
e cinquenta anos, continua sendo adorada, cheia de flores e de encanto, com seu
famoso rio que “joga água pra fora quando chega a água dos olhos de alguém que
chora de saudade”...
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