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terça-feira, 1 de agosto de 2017

Lembranças do Bicentenário de Piracicaba


Ivana Maria França de Negri

Finalzinho dos anos dourados, 1967. Eu,  pré-adolescente, com doze primaveras incompletas. Os festejos do Bicentenário de Piracicaba, nessa época, me marcaram profundamente.
Nossa Noiva da Colina era ainda uma cidade interiorana onde quase todos se conheciam. Mas crescia muito depressa sob o comando do dinâmico prefeito Luciano Guidotti.
Não havia shoppings e os pontos de encontros da juventude eram na saída da missa da Catedral, em algum barzinho, como o Karamba´s Lanches, nos cinemas como o Politeama, Palácio e Broadway, na bombonnière do Passarela ou no Jardim da Cerveja.
Os Beatles eram os ícones, e o iê-iê-iê e a Bossa Nova encantavam os adolescentes.
O movimento “Paz e Amor” dos hippies, se alastrava, e aumentavam as comunidades que rejeitavam produtos industrializados, o consumismo desenfreado, pregando o fim das guerras e ampliação dos direitos.
Tempo de passar as férias escolares em Santos, descer a serra de fusca, o que era uma aventura! Nem se falava em cinto de segurança e a criançada se espremia  no porta-malas que ficava dentro do carro. Uma festa!
As bebidas eram Crush e Cuba-Libre. Crianças não tomavam Coca-cola, só em ocasiões especiais. Bebiam laranjadas e limonadas que suas mães e avós preparavam, geralmente com as frutas colhidas frescas no pé, do quintal das residências.
Nossa casa estava um alvoroço porque minha irmã mais velha, Maria Graziela,  aos 15 anos, tinha sido convidada para participar do concurso que elegeria a Miss Bicentenário. O baile de gala seria no Clube Coronel Barbosa,  o top da cidade na época. Tempos de black-tie, smokings e ternos feitos sob medida com coletes, camisas com barbatanas, abotoaduras e vestidos vaporosos, rendados e bordados. Os convites para os bailes de gala pediam traje a rigor. E os que não estivessem de acordo eram barrados nas festas.
Os penteados eram bem elaborados, coques, cachos, apliques e litros de laquê, que os mantinham firmes, duros, sem desabar. Os “play boys” usavam cabelos bem compridos, uma afronta aos mais velhos, adeptos do corte quase zero dos barbeiros. Também havia os que usavam topetes à La Elvis Presley.
As roupas seguiam o estilo da atriz Brigitte Bardot, tubinhos e minissaias. Já para os rapazes, quem ditava a moda eram os Beatles, o famoso quarteto de Liverpool, com blusas de gola role e terninhos de pernas ajustadas.
Minhas tias, modistas finas – naquela época não havia muita opção de roupa pronta para comprar – sempre a postos com suas fitas métricas, tesouras, agulhas e linhas. Confeccionaram um lindo vestido para minha irmã que foi aclamada pelos jurados como a mais bela, sendo eleita a Miss Bicentenário de Piracicaba, recebendo o cetro, a capa e a coroa, que seriam dela por cem anos!
Eu não podia frequentar os bailes por conta da pouca idade, mas ficava “nos bastidores” participando de tudo. Para mim foi tudo muito mágico!
O tempo passa célere, mas não apaga as lembranças que ficam indelevelmente impregnadas em nossa memória. Saudades de minha mãe, das minhas tias e de um tempo que não volta mais.

E Piracicaba, no auge dos seus duzentos e cinquenta anos, continua sendo adorada, cheia de flores e de encanto, com seu famoso rio que “joga água pra fora quando chega a água dos olhos de alguém que chora de saudade”...

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