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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Eternas crianças


Plinio Montagner

Ante cada novidade somos sempre eternas crianças.
Aprendi que quanto mais vivemos mais lembranças acumulamos, e que o sentimento saudades não é exclusivo de pessoas idosas. Quem tem mais lembranças é porque teve mais experiências, viajou mais, leu mais, estudou e trabalhou mais, ou, simplesmente, porque não morreu jovem.
Falar muito do passado não é peculiaridade de quem está avançado em anos. Muitos jovens, de décadas a menos em idade vencem muitos nonagenários em relação à quantidade de fatos e histórias arquivadas em seus currículos.
Uma verdade: existem moços velhos, e velhos moços.
Se as novidades não surgissem, se tudo acontecesse do mesmo jeito, se ficássemos a vida toda no mesmo lugar, nossa memória estaria empobrecida, vazia. Felizmente a natureza muda, a terra, os valores, os costumes, a moda, os caminhos, os métodos, as leis, as pessoas, tudo muda.
Por enquanto as mudanças geológicas não vão alterar tão cedo a vida na Terra. O galo do quintal do vizinho vai continuar cantando do mesmo jeito, o gato miando no mesmo tom, o porco fuçando o chão e se alimentando a sua maneira, as aves fazendo ninhos sem projetos a fazer inveja aos talentosos arquitetos.
O Universo é tão antigo que pela idade geológica o inicio da vida do homem no planeta foi ontem. Antes da eletricidade nossa vida não era muito diferente, nossa sala de jantar era a mesma, as mesmas camas, a mesma cômoda, os mesmos remédios, lampiões e castiçais.
O escritor Rubem Alves sugere uma reflexão. Conta que quando era adolescente seus pais tinham uma cadela que quando era novinha, de repente, sem nenhuma razão especial, se punha a correr e a saltar como doida, em círculos, pela própria alegria de viver.
E nós, se temos mais motivos e recursos para sermos alegres e felizes, por que rimos pouco com mais bens e conforto?
O escritor faz ainda uma interessante comparação entre a lamparina e a lâmpada elétrica. Lamparina qualquer um faz. E uma lâmpada?
A inteligência, o trabalho, as doenças, as guerras, a curiosidade, o acaso, tudo foi causa de nossa vida ser agora mais confortável e aconchegante.  Quanto tempo passou entre o abandono da carroça e a adoção do automóvel?
Somos privilegiados por termos nascido nestes últimos séculos. Saímos da caverna para o asfalto, do forno à lenha ao aparelho de micro-ondas, da obscuridade à luz.
O homem está extasiado ante tantas mudanças e ao que é bom. E voltou a ser criança, brinca com o celular novo, é feliz pela nova plástica, com o carro novo, a casa nova...
O lado ruim é que a imaginação e a capacidade de enxergar sem ver empobreceram, e nossa poesia não brota mais em nós, ela vem de fora, e pronta, transmitida pela tecnologia de uma televisão.
Mas ainda não mudou o prazer de chupar uma laranja de tampa e uma manga do jeito das crianças. 

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