Plinio Montagner
Ante cada
novidade somos sempre eternas crianças.
Aprendi que
quanto mais vivemos mais lembranças acumulamos, e que o sentimento saudades não
é exclusivo de pessoas idosas. Quem tem mais lembranças é porque teve mais
experiências, viajou mais, leu mais, estudou e trabalhou mais, ou,
simplesmente, porque não morreu jovem.
Falar muito do
passado não é peculiaridade de quem está avançado em anos. Muitos jovens, de
décadas a menos em idade vencem muitos nonagenários em relação à quantidade de
fatos e histórias arquivadas em seus currículos.
Uma verdade:
existem moços velhos, e velhos moços.
Se as novidades
não surgissem, se tudo acontecesse do mesmo jeito, se ficássemos a vida toda no
mesmo lugar, nossa memória estaria empobrecida, vazia. Felizmente a natureza
muda, a terra, os valores, os costumes, a moda, os caminhos, os métodos, as
leis, as pessoas, tudo muda.
Por enquanto as
mudanças geológicas não vão alterar tão cedo a vida na Terra. O galo do quintal
do vizinho vai continuar cantando do mesmo jeito, o gato miando no mesmo tom, o
porco fuçando o chão e se alimentando a sua maneira, as aves fazendo ninhos sem
projetos a fazer inveja aos talentosos arquitetos.
O Universo é tão
antigo que pela idade geológica o inicio da vida do homem no planeta foi ontem.
Antes da eletricidade nossa vida não era muito diferente, nossa sala de jantar
era a mesma, as mesmas camas, a mesma cômoda, os mesmos remédios, lampiões e
castiçais.
O escritor Rubem
Alves sugere uma reflexão. Conta que quando era adolescente seus pais tinham
uma cadela que quando era novinha, de repente, sem nenhuma razão especial, se
punha a correr e a saltar como doida, em círculos, pela própria alegria de
viver.
E nós, se temos
mais motivos e recursos para sermos alegres e felizes, por que rimos pouco com
mais bens e conforto?
O escritor faz
ainda uma interessante comparação entre a lamparina e a lâmpada elétrica.
Lamparina qualquer um faz. E uma lâmpada?
A inteligência,
o trabalho, as doenças, as guerras, a curiosidade, o acaso, tudo foi causa de
nossa vida ser agora mais confortável e aconchegante. Quanto tempo passou entre o abandono da
carroça e a adoção do automóvel?
Somos
privilegiados por termos nascido nestes últimos séculos. Saímos da caverna para
o asfalto, do forno à lenha ao aparelho de micro-ondas, da obscuridade à luz.
O homem está
extasiado ante tantas mudanças e ao que é bom. E voltou a ser criança, brinca
com o celular novo, é feliz pela nova plástica, com o carro novo, a casa
nova...
O lado ruim é
que a imaginação e a capacidade de enxergar sem ver empobreceram, e nossa
poesia não brota mais em nós, ela vem de fora, e pronta, transmitida pela
tecnologia de uma televisão.
Mas ainda não
mudou o prazer de chupar uma laranja de tampa e uma manga do jeito das
crianças.
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