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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

quinta-feira, 31 de março de 2016

SETE CAIXAS (Siete Cajas)

                                                      

                                                                                   Eloah Margoni

     Andava atrás desse filme paraguaio (direção de Juan Carlos Maneglia, 2012) há tempo! Um prazer encontrá-lo na rede e não menos prazeroso ver a direção diferenciada, com cenas sem cortes de transição, de modo que uma tomada “gruda” nas vizinhas. Produção de baixo orçamento, boa história e convincentes trabalhos dos atores.  Assim também geralmente é o cinema argentino, com obras baratas, roteiros bacanas, atores ótimos; tanto que já se consagrou, mundialmente até, pela qualidade considerável.
    Porém, assistir à obra no próprio computador não é o que há de melhor ou mais confortável, pode-se imaginar. O filme é policial em última análise; o local, o mercado de Assunção, grande e precário, um labirinto de pobreza e confusão, pulando para bairros periféricos, opressivos, sem céu.  Parece-nos tanto realista quanto proposital tal enfoque. Todas as ambientações mostram essa carência de zelo, de boas construções e de estética; assim o filme é um anti cartão postal de Assunção. Um lugar onde, certamente, não se quer estar. A direção sem cortes, saltando de uma cena à outra, com tomadas de câmera inusuais, não chega a causar confusão quanto aos elementos, pois fica fácil conhecermos todos os personagens da trama e seguirmos o desenrolar da história. Mas a fuga do personagem principal, Vítor, um adolescente que juntamente com sua jovem amiga Liz tenta escapar com as sete enigmáticas caixas, mostra angustiante e claustrofóbica situação; uma corrida por becos sem saída e corredores labirínticos, remetendo-nos a imagens de filmes de terror ou de pesadelos. Pelo menos dos meus pesadelos...
   A obra tem ingredientes bem dosados também, com toques de humor negro quando mostra quadrilhas perigosas e mortais sim, mas também com membros trapalhões, que fazem confusões ridículas e risíveis. Juntamente com sua frieza, evidenciam algumas dessas pessoas amadorismo e inexperiência no crime. Também há alusões a problemas sociais, pois um dos bandidos precisa extremamente de dinheiro para ajudar o filho doente, ainda criança. Faz menção o thriller, ligeiramente apenas à corrupção policial, e também à corrupção pessoal, pois Vítor enfrenta o medo, a repulsa, o horror, o risco de morrer, apenas para obter um desejado objeto eletrônico! Mas, não se nota ali nada parecido com os filmes Tropa de Elite 1 e 2, nem com Cidade de Deus e afins.

     Nas cenas finais a câmera “abre” para locais claros, iluminados, mais urbanizados e bem arranjados, mostrando outro tipo de gente e uma “outra Assunção”.  Pedaços da tragédia enfocada na história, que acabaram sendo filmados, aparecem na televisão local e trazem grande audiência por parte da população da capital paraguaia, relata a película. Isso indica que a violência de lá, apesar da pobreza do país, não é assim tão banalizada e cotidiana quanto a nossa, não tão terrível ou incontrolável, não tão feroz, tanto que até fez os senhores grisalhos da academia (do Oscar) levantarem-se e saírem da sala ou sentirem-se mal, em alguns filmes brasileiros, indicados ao prêmio.  Enfim, em meio à pobreza, à criminalidade e à carência, Assunção, no Paraguai, não é tão feia quanto se pinta. Nem seu cinema.

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