Eloah Margoni
Andava atrás desse filme paraguaio (direção
de Juan Carlos Maneglia, 2012) há tempo! Um prazer encontrá-lo na rede e não
menos prazeroso ver a direção diferenciada, com cenas sem cortes de transição,
de modo que uma tomada “gruda” nas vizinhas. Produção de baixo orçamento, boa
história e convincentes trabalhos dos atores.
Assim também geralmente é o cinema argentino, com obras baratas, roteiros
bacanas, atores ótimos; tanto que já se consagrou, mundialmente até, pela qualidade
considerável.
Porém, assistir à obra no próprio
computador não é o que há de melhor ou mais confortável, pode-se imaginar. O
filme é policial em última análise; o local, o mercado de Assunção, grande e
precário, um labirinto de pobreza e confusão, pulando para bairros periféricos,
opressivos, sem céu. Parece-nos tanto
realista quanto proposital tal enfoque. Todas as ambientações mostram essa
carência de zelo, de boas construções e de estética; assim o filme é um anti
cartão postal de Assunção. Um lugar onde, certamente, não se quer estar. A
direção sem cortes, saltando de uma cena à outra, com tomadas de câmera
inusuais, não chega a causar confusão quanto aos elementos, pois fica fácil
conhecermos todos os personagens da trama e seguirmos o desenrolar da história.
Mas a fuga do personagem principal, Vítor, um adolescente que juntamente com
sua jovem amiga Liz tenta escapar com as sete enigmáticas caixas, mostra angustiante
e claustrofóbica situação; uma corrida por becos sem saída e corredores
labirínticos, remetendo-nos a imagens de filmes de terror ou de pesadelos. Pelo
menos dos meus pesadelos...
A obra tem ingredientes bem dosados também,
com toques de humor negro quando mostra quadrilhas perigosas e mortais sim, mas
também com membros trapalhões, que fazem confusões ridículas e risíveis. Juntamente
com sua frieza, evidenciam algumas dessas pessoas amadorismo e inexperiência no
crime. Também há alusões a problemas sociais, pois um dos bandidos precisa
extremamente de dinheiro para ajudar o filho doente, ainda criança. Faz menção
o thriller, ligeiramente apenas à corrupção policial, e também à corrupção
pessoal, pois Vítor enfrenta o medo, a repulsa, o horror, o risco de morrer,
apenas para obter um desejado objeto eletrônico! Mas, não se nota ali nada
parecido com os filmes Tropa de Elite 1 e 2, nem com Cidade de Deus e afins.
Nas
cenas finais a câmera “abre” para locais claros, iluminados, mais urbanizados e
bem arranjados, mostrando outro tipo de gente e uma “outra Assunção”. Pedaços da tragédia enfocada na história, que
acabaram sendo filmados, aparecem na televisão local e trazem grande audiência
por parte da população da capital paraguaia, relata a película. Isso indica que
a violência de lá, apesar da pobreza do país, não é assim tão banalizada e
cotidiana quanto a nossa, não tão terrível ou incontrolável, não tão feroz, tanto
que até fez os senhores grisalhos da academia (do Oscar) levantarem-se e saírem
da sala ou sentirem-se mal, em alguns filmes brasileiros, indicados ao prêmio. Enfim, em meio à pobreza, à criminalidade e à
carência, Assunção, no Paraguai, não é tão feia quanto se pinta. Nem seu
cinema.
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