Adolpho Queiroz
Admiração
e respeito foram dois sentimentos que cultivei ao longo de minha trajetória
profissional em Piracicaba – ou fora daí – pelo jornalista Ludovico Silva.
Aprendi a conhecer melhor o E.C.XV de Novembro de Piracicaba através da coluna
que ele editou durante décadas no Jornal de Piracicaba, intitulada “Q.G do
XV”. Eram pequenas notícias sobe o dia a
dia do clube, escritas entre uma folga e outra que tinha nas suas funções mais
nobres de servidor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
Ainda
jovem jornalista, naquele periódico, inventei de fazer um suplemento dominical,
em formato tabloide, para imitar o velho “Pasquim”. Uma das primeiras
encomendas que lhe fiz foi para contar sobre apelidos
curiosos de jogadores de futebol. Ele formou uma seleção com nomes estranhos
como Formiga e Ratinho na zaga central e um exército de apelidos mal postos nos
caneleiros que faziam sucesso à época. Ambos nos divertimos muito com o
resultado do trabalho.
Mais
recentemente acompanhava suas investidas literárias na página que ajudou a
construir com carinho aqui na Tribuna, ao lado da escritora Ivana Negri.
Escrever era um gesto de liberdade para ele, uma forma de respirar das
contradições do dia a dia.
Ajudou-me
grandemente durante a construção do último livro de memórias que consegui
elaborar aí na cidade, recontando a história e trajetória do jogador Vicente
Naval Filho, o Gatão. Foi aos arquivos com o mesmo vigor dos grandes dias de
glórias do nosso quinzão. Vizinho de uma das irmãs de Gatão, me deu dicas
também sobre a família. Não conseguiu ir ao lançamento, pediu desculpas e nos
enviou o filho Renato Scudeller da Silva, meu colega de “Sud Mennucci”, para
representá-lo na ocasião.
Dias
depois recebeu-me em sua casa, entre várias xícaras de café, para avaliar o
livro e rabiscar autógrafos ao meu lado para seus filhos e pessoas mais
queridas, a quem pretendia enviar os exemplares do “Gatão”.
Fizemos
planos para um novo livro sobre o Presidente tremendão, Humberto D ´Abronzo,
que engrandeceu o XV com o seu trabalho e fez Piracicaba tornar-se conhecida
por causa da sua caninha “Tatuzinho”. Chegou a rabiscar oito páginas sobre o
assunto e tinha me enviado recentemente para nortear o nosso trabalho de
pesquisa. As dificuldades destes dias impediram-nos, pelo menos por enquanto, a
dar prosseguimento ao projeto.
Apaixonado
pelo XV, legou à torcida fanática uma das contribuições mais singulares, com as
notas que escrevia diariamente sobre o clube. E na conversa derradeira, entre
um sorriso maroto e uma cara meio fechada segredou: “O Ripoli me ligava todos
os dias. De umas coisas que eu escrevia ele gostava. De outras me criticava, as
vezes me aborrecia, como se eu fosse funcionário dele e não do Jornal. Foi duro
manter a minha independência! ”
Mais
do que seriedade e compromisso, num setor do jornalismo onde as paixões
prevalecem, Ludovico Silva deixou aos seus leitores e amigos, duas grandes
marcas: o seu caráter e a sua dignidade.
Adolpho Queiroz, é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP
Texto publicado no jornal A TRIBUNA PIRACICABANA
Texto publicado no jornal A TRIBUNA PIRACICABANA
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