As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

quinta-feira, 18 de junho de 2015

PESCADORES

     
Ludovico da Silva

Tarde quente de verão. Eu estava mesmo à toa, fui até a barranca do rio Piracicaba, ali no salto, um dos recantos mais lindos da cidade, para me distrair um pouco e prosear com alguns pescadores. Sabe como é, pescador sempre tem uma boa história para contar.
Como todo bom caipira, o pescador é meio cismado quando algum estranho se aproxima dele. É preciso paciência, ir tocando a conversa até ele ganhar confiança para soltar a língua. Ainda assim, com um pouco de receio. Apresentei-me. Ele era o Chico.
Conversa vai, conversa vem, perguntei-lhe se sabia de algum causo pra me contar. De imediato, me falou que tinha, mas que eu não acreditaria, porque era mesmo história de pescador. Provoquei-o.
Quando eu pescava, Chico, aconteceu um caso engraçado. Eu sempre ia na lagoa da Fazenda Tamandupá, onde tinha “assim” de traíra. Fiz um gesto com os dedos das duas mãos, para marcar bem a quantidade de peixe. Não é que eu peguei uma traíra tão grande, mas tão grande, que quando fui tirá-la do anzol ela saltou, deu uma volta na canoa, mordeu meu pé e ainda por cima arrancou um chinelo de dedo. Saiu em disparada com a linha de aço, a isca e a vara. Sete dias depois, voltei à lagoa pra mais uma pescadinha e não é que vi a traíra esquiando no meu chinelo?
O Chico deu uma risadinha irônica, tirou o cigarro de palha da boca, cuspiu de lado, ajeitou o chapéu na cabeça e lascou esta.
“Isso não é nada dotô. Domingo passado fui com o meu cumpadre Zé pescá no paredão vermeio, no caminhão véio dele. Peguemo tanto pexe, mais tanto pexe, que encheu a carroceria. Na vorta, numa ladera bem cumprida, o caminhão ganhô muita velocidade. O cumpadre Zé ficô desesperado, tacô o pé no breque, que faiô; o câmbio não engatava marcha; vi os pexes sartando da carroceria; São Cristóvo, que tava no painer, já tinha sartado de medo. Oiei a cara do cumpadre Zé tava branca. Daí eu falei: carma cumpadre, dexe cumigo. Quebrei o vidro do velocímetro e fui afastando o ponteiro bem devagarinho, até o caminhão pará.”

Todos os pescadores em volta riram bastante. Não sei se da piada ou da minha cara. E depois, com a maior cara de pau, o Chico ainda me ofereceu uma pinguinha...

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