Pedro
Israel Novaes de Almeida
Houve um tempo em que as praças eram
centros de convívio, e não meros atalhos.
Em algumas cidades, a banda alegrava
o ambiente, e o coreto servia como palco à apresentação de artistas locais. Na
maioria dos municípios, sequer as bandas sobreviveram, e com elas a descoberta
e incentivo a instrumentistas.
Os jardins eram mantidos graças aos
educativos porretes dos guardas municipais, não raro idosos e dedicados
servidores. Fontes luminosas e lagos embelezavam o ambiente, à época bem
iluminado.
A música era irradiada por sofríveis
alto-falantes, e entremeada por propagandas, de sorvete a funerária, até que a
chegada das 22:00 horas decretasse o silêncio absoluto. Não existiam as sons
ensurdecedores e desrespeitosos dos carros, agora transformados em bregas
discotecas ambulantes.
Homens e mulheres formavam
diferentes círculos, que caminhavam em direções opostas. Aos poucos, as
mulheres mais atraentes eram chamadas pelo interessado para fora do círculo,
iniciando a paquera.
Mulheres feias andavam em bando,
evitando o constrangimento de terminarem a noite perambulando solitárias pelo
círculo feminino. Homens idem.
Não existiam cantos de crack, e os
raros casos de violência diziam respeito a bandos rivais de bairros distintos.
Havia ainda os que julgavam-se proprietários das ex-namoradas, e os irmãos
ungidos censores dos relacionamentos das irmãs.
O comércio dizia respeito à venda de
pipoca, sorvete, algodão doce e quebra-queixo, complementado pelo boteco da
praça. Crianças brincavam e idosos comentavam feitos nem sempre ocorridos.
Vez ou outra, a pipoca era premiada,
com minúsculo torresmo, enquanto o quebra-queixo indicava se original a
dentição do consumidor. Os molhos para pipoca, surgidos ao longo do tempo,
figuram como a pior invenção da humanidade. Sorvetes variavam a cor, mantendo a
característica de gêlo tingido.
As praças tinham vida própria e eram
repletas de memória. As conversas não eram tecladas e o relacionamento mais
pessoal.
Os locais públicos estão sendo
esvaziados, a cada dia menos frequentados, por insegurança ou novos hábitos. A
convivência torna-se cada vez mais restrita, com cada grupo escolhendo seu
gueto.
Reurbanizar praças, jardinando-as e
garantindo-lhes ambientes seguros, é bem mais importante que construir portais,
não raros escandalosos. Praças permitem a convivência, e portais são meros
detalhes visuais da chegada.
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