Olivaldo Júnior
Na aquarela do tempo, onde as tintas se misturam, misturo-me a elas. Elas, as tintas, me pintam de novo a cada aniversário. Rio sem sorrir de mim mesmo e me lembro do velho menino à sombra do mundo, mudando de lado, para não se molhar. Rápida, a chuva se fez e molhou minhas costas, aguando o “terreno” onde as roseiras têm vez, fazendo de mim um canteiro que anda. Criança, brinquei na rua e roubei soluços de um anjo da guarda que me aguardou crescer pra descansar, mas, “tadinho”, não dormiu nada desde o dia em que nasci.
Assim, fui vendo minha mãe, meu pai e meu irmão tomarem rumo e, juntos e a sós, rimarem sonho e dia a dia ao mesmo tempo. O vento passa e leva o som da gente nos passos. Sopro o meu barco, para ver se ele alcança outra ilha, aquela em que serei eu. Zune um voo de inseto, e sou eu mesmo o velho intruso sobre a mesa. Sábio como um sapo que era príncipe, dou início ao fim.
Na boca da noite, o dia já vem, saboroso néctar de todas as odes, como se a nós fosse dado escolher o seu gosto. Num gesto sem nexo, levo à boca os retratos que esse tempo me dá e os degusto. O gosto do sonho. A vida me leva a ter cores e, pouco a pouco, a ser pálido, em cinza e, quando muito, em preto-e-branco. O amigo me escuse, perdoe-me o grito, mas o tempo me esgota.
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