Pedro Israel Novaes de Almeida
A regulação da mídia, no Brasil, parece
fadada a figurar no arquivo dos temas eternamente postergados.
Qualquer cidadão pode editar seu
próprio jornal ou revista, impressa ou eletrônica, ou fundar um site de
informações ou opiniões. Tais veículos não dependem de autorização oficial, e
podem estar dispersos por todas as tendências do pensamento humano.
O grande problema reside nas
emissoras de TV e rádio, concessões públicas que, ao longo da história,
acabaram concentradas em mãos de políticos, grupos religiosos ou seletas castas
empresariais. Meros mortais jamais acabam
proprietários de tais mídias, ainda que jurem boas intenções e passado ilibado.
Faz parte da cultura popular o
simplista e imbecil ditado, segundo o qual basta desligar a TV ou rádio, para
evitar que suas mazelas atinjam o cidadão e sua família. O som e imagem saem do
domicílio, mas continuam presentes na desinformação, falta de recato, valores
idiotas e outras quinquilharias esparramadas pela sociedade.
Rádio e TV podem demolir ou
construir valores e culturas, orientar eleições, erigir falsos ídolos,
prejudicar patrimônios e imagens e tudo aquilo de que a imaginação humana é
capaz. Podem, quando querem, beneficiar a sociedade, com boas e instrutivas
programações.
No Brasil, a legislação que trata do
assunto mais parece um compêndio de bons enunciados e pouca efetividade. São
proibidos os monopólios e oligopólios, e asseguradas as finalidades culturais,
educativas, artísticas e informativas das programações, além de lembretes a
respeito da adequação etária de horários. Só.
A omissão dos governos, deixando as
baixarias da TV deseducarem a população, custa caro à sociedade, que tende a
repetir as asneiras de ídolos fabricados, valorizar exemplos inadequados de
consumo e manifestar mais interesse pelas nádegas da famosa que pela miséria do
vizinho. Bons exemplos, de seres e grupamentos humanos, acabam, quase sempre
ignorados. Para a maioria dos canais de TV, parece que o cidadão normal, sem
silicones, incapaz de gestos grotescamente insinuantes, sem corpo sarado ou uma
extravagância qualquer, simplesmente não existe.
A TV forma a consciência e valores
coletivos, e, no fundo, acabamos tratados como desprezível massa de manobra e
consumo. Estamos consolidando uma geração de idiotizados e desrespeitadores
sociais e culturais. A concessão não gera poderes ilimitados e submete-se aos
imperativos legais e interesses coletivos.
Não podemos continuar varrendo o
lixo para sob o tapete. O tema deve ser amplamente discutido, e as soluções
implementadas, evitando a supremacia de grupelhos ideológicos e a tentação de
instrumentar a mídia para manutenção de poder ou silenciar opositores. Cultura,
informação isenta, educação e entretenimento, diversificados, é o que importa.
Políticos com mandato seriam
impedidos de conduzir programas, ainda que somente vereadores. Será que somos
incapazes de garantir ao menos o fim das baixarias na TV, tipo BBB e Super Pop,
sem escorregar para patrulhamentos ideológicos e padronização cultural ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário