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Reunião na Biblioteca

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O PAPA E O MURO




                                                      Pedro Israel Novaes de Almeida

            Seria insanidade pretendermos comentar a renúncia do Papa.
            Nossa cultura religiosa não vai além da esquina mais próxima, e nossos ritos não vão além do exercício diário da vida franciscana que levamos, mesmo sem renunciarmos a heranças e salários.
            Temos amigos fiéis extremados e ateus convictos, o que permite a conclusão de que religiosidade não é sinônimo de bondade. A bondade e a fraternidade humanas nem sempre são consequências da fé, mas virtudes pessoais.
            Invejamos os que professam qualquer crença, e fazem de tal condição um parâmetro em todos os momentos da vida. Tais crentes, que agem na terra conforme o que acreditam ser a vontade dos céus, são sobretudo coerentes, e, não raro, felizes.
            Há crentes de ocasião, como candidatos políticos que comparecem com assiduidade aos templos, em anos eleitorais, e crentes sociais, que fazem dos rituais um modo de vivenciar a sociedade e até valorizar a profissão ou comércio.
            As religiões curvam-se aos céus, mas disputam espaços na terra. O respeito entre os credos é falacioso, e existe uma guerra silenciosa entre eles, pela atração de fiéis.
            Dizem, com razão, que quanto mais carente e inculto o povo, maior o número de tendências religiosas a assediá-lo. Carentes e incultos são presas fáceis de falsos profetas, vendedores de milagres e bênçãos.
            Nossa constituição garante a liberdade de crença e culto, mas tal liberdade não é absoluta. Cultos não podem perturbar o sossego público, sacrificar animais e tampouco açoitar seres humanos.
            Sequer a laicidade do Estado é obedecida, quando da concessão de benesses como passaportes especiais, emissoras de rádio e TV e até mesmo inscrições e imagens em prédios e ambientes públicos, quando ultrapassam os limites da tradição e cultura.  Partidos religiosos tendem a semear a discórdia, em nome de Deus, e não são raros os povos infelicitados pelo confronto político entre religiões.
            As estatísticas demonstram que existe um movimento coletivo em direção ao culto a Deus sem a intermediação das igrejas. As igrejas são cada vez mais humanas, repletas de problemas organizacionais e de convivência, além da dificuldade em prosseguir formando quadros de direção e liderança.
            Apesar dos pesares, a maioria das religiões presta inestimáveis serviços sociais, amparando estratos carentes, atuando em assuntos e regiões onde o Estado é falho, e promovendo a cultura e profissionalização.
            Retornando ao Papa, desconhecemos os reais motivos e circunstâncias da renúncia, e tudo o que sabemos flutua ao sabor do noticiário da TV e jornais. Resta-nos esperar, sempre respeitando os que o respeitam.
            Iniciamos o artigo do alto do muro. Descemos de ambos os lados, e terminamos por novamente escalá-lo. Não convém dar sequência aos ditos rancorosos, baseados em levantamentos históricos milenares, nem a juras quase cegas de infalibilidade.

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