Pedro
Israel Novaes de Almeida
Seria insanidade pretendermos
comentar a renúncia do Papa.
Nossa cultura religiosa não vai além
da esquina mais próxima, e nossos ritos não vão além do exercício diário da
vida franciscana que levamos, mesmo sem renunciarmos a heranças e salários.
Temos amigos fiéis extremados e
ateus convictos, o que permite a conclusão de que religiosidade não é sinônimo
de bondade. A bondade e a fraternidade humanas nem sempre são consequências da
fé, mas virtudes pessoais.
Invejamos os que professam qualquer
crença, e fazem de tal condição um parâmetro em todos os momentos da vida. Tais
crentes, que agem na terra conforme o que acreditam ser a vontade dos céus, são
sobretudo coerentes, e, não raro, felizes.
Há crentes de ocasião, como
candidatos políticos que comparecem com assiduidade aos templos, em anos
eleitorais, e crentes sociais, que fazem dos rituais um modo de vivenciar a
sociedade e até valorizar a profissão ou comércio.
As religiões curvam-se aos céus, mas
disputam espaços na terra. O respeito entre os credos é falacioso, e existe uma
guerra silenciosa entre eles, pela atração de fiéis.
Dizem, com razão, que quanto mais
carente e inculto o povo, maior o número de tendências religiosas a assediá-lo.
Carentes e incultos são presas fáceis de falsos profetas, vendedores de
milagres e bênçãos.
Nossa constituição garante a
liberdade de crença e culto, mas tal liberdade não é absoluta. Cultos não podem
perturbar o sossego público, sacrificar animais e tampouco açoitar seres
humanos.
Sequer a laicidade do Estado é
obedecida, quando da concessão de benesses como passaportes especiais,
emissoras de rádio e TV e até mesmo inscrições e imagens em prédios e ambientes
públicos, quando ultrapassam os limites da tradição e cultura. Partidos religiosos tendem a semear a
discórdia, em nome de Deus, e não são raros os povos infelicitados pelo
confronto político entre religiões.
As estatísticas demonstram que
existe um movimento coletivo em direção ao culto a Deus sem a intermediação das
igrejas. As igrejas são cada vez mais humanas, repletas de problemas
organizacionais e de convivência, além da dificuldade em prosseguir formando
quadros de direção e liderança.
Apesar dos pesares, a maioria das
religiões presta inestimáveis serviços sociais, amparando estratos carentes,
atuando em assuntos e regiões onde o Estado é falho, e promovendo a cultura e
profissionalização.
Retornando ao Papa, desconhecemos os
reais motivos e circunstâncias da renúncia, e tudo o que sabemos flutua ao
sabor do noticiário da TV e jornais. Resta-nos esperar, sempre respeitando os
que o respeitam.
Iniciamos o artigo do alto do muro.
Descemos de ambos os lados, e terminamos por novamente escalá-lo. Não convém
dar sequência aos ditos rancorosos, baseados em levantamentos históricos
milenares, nem a juras quase cegas de infalibilidade.
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