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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O JARDIM



Olivaldo Júnior

            Era um homem cujos olhos tinham ficado sem outros para contemplá-lo. O preço de ser homem é ter que existir, de um jeito ou de outro. O mundo não se acaba, mas a gente sim. Sim, o homem tinha um jardim. O jardim que ele havia cuidado por muitos anos, onde estavam muitas flores, ou o que tinha restado delas. Elas, as flores, podem ser matéria ou mesmo etéreas, não importa: flores são símbolos do que já floriu.
            As flores daquele homem sabiam bem de onde haviam nascido. Nascer é mais que ser dado à luz, ou a cruz, de cada dia. Nascer é crescer depois de cada corte. Sorte das flores, tadinhas, que nunca sabem quando lhes vão cortar os ramos, caules, nada que lhes seja ornamental. Pensando bem, também não sei quando é que me vão cortar os ramos, caules, tudo que seja essencial. As flores do jardim do jovem homem nasceram de todas as doçuras e favores que ele teve. Havia uma flor para cada pessoa que tivera.
            Havia uma flor para a mãe, outra para o pai e uma para o irmão do triste homem. A mãe e o pai, o cravo e a rosa, brigaram e, por fim, se separaram. O irmão, a flor do irmão fugira em pétalas para outro inóspito canteiro. As flores dos parentes, mais ausentes, murchando foram a cada estranho vento que as condenavam ao cimento. O vento, o mesmo de sempre, arruinava as flores de cada amigo daquele canto, canteiro exangue de esperanças, frio de alegrias, tão sem vida em meio aos versos que o jovem homem arranjava. Versos são gotículas de tempo que se vertem sobre as páginas, virtuais ou virtuosas, de quem serve. Assim, as flores que tanto amava foram morrendo. Havia uma flor para o amigo músico, para o amigo máximo, para o amigo médio, para o amigo mínimo, para o amigo módico. Cada uma, pouco a pouco, foi perdendo as cores, ficando cinza, virando pó. A posse do jardim foi perdendo propriedade. O homem foi ficando ainda mais triste do que já era. Estava longe a primavera. O jardim morreria só.
            A sobra dos dias já não mais alimentava o que restava no jardim. O homem ficava mudo, não mudava nem as coisas do seu quarto de lugar. Não tinha mais ninguém para ligar. O lugar da alma é onde as flores são mais vivas. O vidro da vida estava espesso demais. O jardim estava frágil. As flores viravam torres, vasos solitários.

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