Ludovico da Silva
Os amanheceres da vida
não são todos iguais. As diferenças se manifestam a cada dia que nasce e a
força da reação traduz os sentimentos de cada pessoa. Manhãs de sol fazem o
astral das pessoas atingir elevação de espírito, tornam-nas alegres,
comunicativas, fazendo-as transpirar ares de felicidade. Transmitem euforia nos
encontros com amigos. Curtem com prazer uma prosa descontraída. Experimentam
uma sensação diferente e comunicativa. Até os passarinhos reagem com alegria,
transmitindo com seus cantos uma manifestação de contentamento. Trocando
encontros em voos delicados, as andorinhas simulam, ao seu jeito, conversas em
gorjeios poéticos. No alto de um prédio, cercado pelo movimento incessante de
veículos, o sabiá transmite a dor de uma prisão impiedosa, sentindo o prazer
escondido no seu trinar melancólico. Pombos da praça arrulham momentos
amorosos. Até os pardais, quando se recolhem em seus aposentos nas árvores,
iniciam uma sinfonia estridente, mas que envolvem, igualmente, momentos que
encerram com sua música os entardeceres diários.
Se os dias amanhecem chuvosos,
carrancudos e macilentos provocam uma reação de tristeza, sempre fugindo pelos
contornos das ruas, enroscando nos guarda-chuvas que se chocam a cada passo
apressado. As pessoas até se sentem frustradas pela falta de reuniões informais
em lugares comuns para jogar conversas fora É uma melancolia total.
Muito mais alegre e
proporcionando uma felicidade sem fim é ver o céu todo azulado, sem nuvens,
tempestades ou raios riscando os ares ameaçadores, provocando sensação de medo.
Daí não dá.
Mais gostoso é quando um vento
suave sopra delicadamente o rosto, permitindo às pessoas sentirem o prazer de
uma vida cercada de bons augúrios, tornando os corpos leves, o andar no encontro
de um amigo que há muito tempo não vê, na saudade que o tempo traz.
Abrir a janela e olhar que o dia
desponta cheio na esperança para um mundo sem tristezas.
Na cidade, às vezes, o vento
assusta, porque transita pelas ruas que o cercam. Canaliza sua força em vãos
estreitos e embrutece o seu passar nos embates aos obstáculos à sua frente. Não
oferece uma música suave no toque às flores e no farfalhar dos ramos das
árvores. O bom é senti-lo nos campos abertos à sua passagem, quando emite uma
sonoridade de um canto envolto em uma melodia que encanta. Pode até, em manhã
inesperada, chegar de mansinho e acariciar as flores de um jardim. Alegres e
agradecidas, as flores ensaiam um bailado. O vento vai embora, mas promete
voltar. E volta.
O tempo passa e das flores
despertam sementes viçosas. O vento as leva para dar vida a outro jardim.
Faça como o vento: semeie
flores no jardim de sua vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário