Até dezembro...
Adenize Maria Costa
Interessante como a vida nos surpreende; pessoas passam pela nossa vida das mais variadas maneiras. E o contrário também é verdadeiro: nós passamos pela vida das pessoas e muitas vezes teremos a oportunidade de passar uma única vez na vida de alguém.
Ontem num evento de confraternização dos escritores da Editora In House uma pessoa passou pela minha vida para me fazer crescer. Alguns minutos de conversa foram suficientes para ver ali uma pessoa rara, um ser humano fantástico.
Seu nome: Sônia. Uma mulher de meia idade que atua com entusiasmo na defesa dos animais. Faz um belíssimo trabalho na cidade de Itupeva. Sônia trabalha em favor da vida... Seus olhos brilham quando fala do seu trabalho.
Mas o que me chamou a atenção, foi o fato de contar com tanta naturalidade que está com câncer e que ao perceber que o corpo já não está mais aguentando as sessões de quimioterapia se encorajou e perguntou ao médico quanto tempo lhe resta. Com muita tranquilidade contou-me ainda que, quando questionada, pela psicóloga, sobre qual a maior dificuldade desse momento disse que é o fato de desprender-se de suas coisas, de seu trabalho, das coisas que escreveu sobre os animais. Foi aconselhada a ir aos poucos se desfazendo e se desprendendo... Reuniu os familiares e começou a fazer a partilha de “seus bens”. Distribuiu com seus entes queridos seu pequeno tesouro e com expressão muito segura, lívida disse que ao tomar essa atitude o impacto “do prazo” passou a doer menos.
Disse-me que quer aproveitar ao máximo cada minuto do tempo que lhe resta, mesmo enfrentando as dificuldades dos deslocamentos, os cansaços, o incômodo de carregar fraldas na bolsa, e ela fala isso sorrindo... Aliás, o sorriso brota com muita facilidade em seu rosto. Rosto que não esconde os reflexos da quimioterapia: as sobrancelhas ralas, as maçãs do rosto ruborizadas pela febre... Mas o brilho dos olhos, é uma celebração à vida, é o retrato de sua alma.
Plagiando o Padre Fábio: “ Sônia tem câncer, mas o câncer não tem Sônia.”
Essa passagem de Sônia pela minha vida foi uma grande lição. As vezes por tão pouco sucumbimos, queremos desistir, praguejamos e maldizemos as adversidades que de vez em quando nos esbarram, não é verdade?
Não pude esconder minha fraqueza, minhas lágrimas eram de emoção por ter o privilégio de por alguns minutos estar tão perto de uma pessoa que, a mim, é sinônimo mais concreto de Coragem...
A mim o tempo parece curto, mas para Sônia existe muita vida até dezembro ...
Um comentário:
Tocante, Adenize...
A maioria das pessoas passa a vida inteira em seu restrito mundinho de vaidades, desprovidas de altruísmo, sem saber o que é doar-se. Mas uma dia, todos, sem exceção, terão que cair na real e esse texto deve induzir muitos à reflexão.
obrigada pelo texto
abrs
Ivana
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