Ivana Maria França de Negri
http://gazetadepiracicaba.cosmo.com.br/conteudo/mostra_noticia.aspnoticia=1707376&area=26010&authent=124416065061172701655207545254
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Plantadas há décadas lado a lado, floresceram juntas em muitas primaveras. Uma oferecia alvos cachos perfumados, e a outra, rubros pingentes que eram oferecidos pelos enamorados às suas amadas. Abrigaram ninhos de passarinhos, e em troca, recebiam a paz do seu canto. Assistiram ao milagre de molengas lagartas transformarem-se em belíssimas borboletas. Sustentaram balanços para alegrar brincadeiras infantis. Quando as crianças adolesciam, e faziam de seus troncos confidentes e desenhavam corações com os nomes dos seus amores, aceitavam tudo com serenidade. Até a dor das marcas riscadas a canivete. Suas flores enfeitaram mesas festivas, formaram buquês de noivas e acompanharam muitos dos habitantes até a última morada, participando assim de todas as etapas de suas vidas.
Encorparam, e suas copas pareciam querer tocar o céu enquanto a circunferência de seus troncos alargava-se. Quem as avistava de longe, pensava tratar-se de uma única árvore porque suas copas se misturavam. As raízes se entrelaçavam e as flores caiam juntas formando um macio tapete colorido.
Atravessaram verões dando sombra amiga aos passantes. Despiam-se nos outonos, desfloresciam nos invernos, mas sempre renasciam nas primaveras, quando então reinavam majestosas, florejando e espargindo deliciosos odores.
A cidade cresceu, o progresso chegou, modernas avenidas foram tomando o espaço do verde. Até que um dia foi decretada a retirada das duas porque estavam atrapalhando. Tornaram-se um estorvo porque impediam a construção de um novo viaduto.
Funcionários da prefeitura chegaram com suas motoserras e, sem piedade, começaram a podar os galhos. No chão, a hemorragia verde misturava-se com as folhas maceradas e os troncos recebiam pesados golpes de machado espalhando o cheiro concentrado da seiva fresca que vertia dos cortes. Ninguém se apiedou delas e nada fizeram para impedir seu aniquilamento. As duas agarraram-se mais ainda entrelaçando suas raízes num mudo protesto, um pedido de socorro que ninguém percebeu. Apenas uma brisa amiga soprou solidária. O sol escondeu-se atrás das nuvens para não presenciar o triste acontecimento. Nem a lua apareceu naquela noite e nenhuma estrela ousou iluminar o céu que se cobriu de luto. Depois de horas do ensurdecedor barulho das serras enlouquecidas cortando os troncos carnudos, os funcionários desistiram de arrancar as raízes. Cobriram-nas com concreto e comemoraram o término da árdua missão.
Passou-se muito tempo, depois da construção da moderna rodovia. O chão começou a trincar e tímida fenda deixou antever um frágil brotinho verde em meio ao negror do asfalto. Antigos moradores, os que ainda se lembravam das duas árvores sempre abraçadas, ficaram curiosos para saber qual delas havia sobrevivido. Seria a de flores vermelhas? Ou sobrevivera a de flores brancas?
Quando no ano seguinte a primavera chegou com toda sua tradicional exuberância, tiveram a grata surpresa. Nem vermelhas, tampouco brancas. Resultado do idílio amoroso entre aquelas primitivas almas vegetais, nascera uma árvore com as mais lindas e cheirosas flores como ninguém jamais havia visto! E eram todas cor-de-rosa...
Encorparam, e suas copas pareciam querer tocar o céu enquanto a circunferência de seus troncos alargava-se. Quem as avistava de longe, pensava tratar-se de uma única árvore porque suas copas se misturavam. As raízes se entrelaçavam e as flores caiam juntas formando um macio tapete colorido.
Atravessaram verões dando sombra amiga aos passantes. Despiam-se nos outonos, desfloresciam nos invernos, mas sempre renasciam nas primaveras, quando então reinavam majestosas, florejando e espargindo deliciosos odores.
A cidade cresceu, o progresso chegou, modernas avenidas foram tomando o espaço do verde. Até que um dia foi decretada a retirada das duas porque estavam atrapalhando. Tornaram-se um estorvo porque impediam a construção de um novo viaduto.
Funcionários da prefeitura chegaram com suas motoserras e, sem piedade, começaram a podar os galhos. No chão, a hemorragia verde misturava-se com as folhas maceradas e os troncos recebiam pesados golpes de machado espalhando o cheiro concentrado da seiva fresca que vertia dos cortes. Ninguém se apiedou delas e nada fizeram para impedir seu aniquilamento. As duas agarraram-se mais ainda entrelaçando suas raízes num mudo protesto, um pedido de socorro que ninguém percebeu. Apenas uma brisa amiga soprou solidária. O sol escondeu-se atrás das nuvens para não presenciar o triste acontecimento. Nem a lua apareceu naquela noite e nenhuma estrela ousou iluminar o céu que se cobriu de luto. Depois de horas do ensurdecedor barulho das serras enlouquecidas cortando os troncos carnudos, os funcionários desistiram de arrancar as raízes. Cobriram-nas com concreto e comemoraram o término da árdua missão.
Passou-se muito tempo, depois da construção da moderna rodovia. O chão começou a trincar e tímida fenda deixou antever um frágil brotinho verde em meio ao negror do asfalto. Antigos moradores, os que ainda se lembravam das duas árvores sempre abraçadas, ficaram curiosos para saber qual delas havia sobrevivido. Seria a de flores vermelhas? Ou sobrevivera a de flores brancas?
Quando no ano seguinte a primavera chegou com toda sua tradicional exuberância, tiveram a grata surpresa. Nem vermelhas, tampouco brancas. Resultado do idílio amoroso entre aquelas primitivas almas vegetais, nascera uma árvore com as mais lindas e cheirosas flores como ninguém jamais havia visto! E eram todas cor-de-rosa...
2 comentários:
Que lindo !
Arvores juntando-se por um bem maior e novo colorido na paisagem!
Singelo, doce, inocente . Revela bem a alma e sensibilidade da autora.
Gostei demais.
Dirce Ramos de Lima
Belíssimo este conto, Parabéns! Ab Mel
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