A Coleção (in Tardes de Prosa)
Raquel Delvaje
Josefa tem uma coleção – disse Carlinhos para um amigo – Só que ela não nos deixa ver...
A curiosidade de Carlinhos era muito grande. Queria saber qual seria a coleção de Josefa. Esta, por sua vez, passava o dia a desfilar com sua caixinha de sapato para baixo e para cima.
A menina, com seus cinco anos, sentia-se a dona de todos os segredos. E como era bom esse sentimento!
Carlinhos a espreitava. Não precisava de mais nada nessa vida, tudo o que queria era só pegar aquela caixa.
A menina dormia e acordava como fiel guardiã de sua caixinha que guardava o maior segredo que alguém poderia ocultar.
– Grande Josefa – pensava ela. E como se sentia admirável.
Carlinhos, por sua vez, tinha seu ego diminuído...
Como ele, justamente ele, ser privado de tão grande segredo, a coleção magnífica de Josefa.
O que seria? Ele tentava adivinhar. Arriscava alguns palpites: uma coleção de besouros, não, ela teria medo; uma coleção de grampos, isso é muito chato; talvez tampinhas de refrigerantes, não; ou talvez figurinhas, isso também não.
Com certeza a coleção dela era muito mais extraordinária!
O pobre menino se desesperava só de imaginar que poderia passar toda a sua vida sem descobrir o que tinha naquela caixinha secreta. E justo ele, já com seus oito anos, sendo passado para trás por uma menina.
Então, ele resolveu que também colecionaria algo. E seria também um segredo. Mas não funcionou, não causou nenhum impacto.
A curiosidade dele ficou ainda maior.
– Como a coleção de Josefa é importante – pensava. Fazia dela importante e ela andava como uma pessoa importante; com isso, ele a achava linda. – Poxa vida! Tudo por causa dessa caixinha de coleções! – suspirava amargamente.
E a colecionadora continuava em seu passo insolente, com sua preciosidade nas mãos, para desesperança do menino.
Carlinhos nem soube dizer como, num ato de ansiedade, pulou nos braços de Josefa e derrubou o que ela tinha nas mãos.
Que surpresa! Ao cair a caixa e abrir-se a tampa nada havia em seu conteúdo.
Josefa chorou compulsivamente. Seu segredo havia sido revelado, não possuía nenhuma coleção especial. Aliás, não possuía nenhuma coleção.
E Carlinhos se sentiu o maior, pois havia descoberto o grande segredo; nunca mais ela lhe seria superior. Foi quando, olhando para a menina inconsolável, percebeu o quanto ainda era linda e como estava frágil. Compreendeu que não era aquela coleção que a deixava especial.
E foi consolá-la:
– Eu sei que você guardou sua coleção em outro lugar.
Ela lhe abriu um sorriso:
– Ah, você sabe?
E Carlinhos se sentiu feliz ao vê-la sorrir.
Raquel Delvaje
Josefa tem uma coleção – disse Carlinhos para um amigo – Só que ela não nos deixa ver...
A curiosidade de Carlinhos era muito grande. Queria saber qual seria a coleção de Josefa. Esta, por sua vez, passava o dia a desfilar com sua caixinha de sapato para baixo e para cima.
A menina, com seus cinco anos, sentia-se a dona de todos os segredos. E como era bom esse sentimento!
Carlinhos a espreitava. Não precisava de mais nada nessa vida, tudo o que queria era só pegar aquela caixa.
A menina dormia e acordava como fiel guardiã de sua caixinha que guardava o maior segredo que alguém poderia ocultar.
– Grande Josefa – pensava ela. E como se sentia admirável.
Carlinhos, por sua vez, tinha seu ego diminuído...
Como ele, justamente ele, ser privado de tão grande segredo, a coleção magnífica de Josefa.
O que seria? Ele tentava adivinhar. Arriscava alguns palpites: uma coleção de besouros, não, ela teria medo; uma coleção de grampos, isso é muito chato; talvez tampinhas de refrigerantes, não; ou talvez figurinhas, isso também não.
Com certeza a coleção dela era muito mais extraordinária!
O pobre menino se desesperava só de imaginar que poderia passar toda a sua vida sem descobrir o que tinha naquela caixinha secreta. E justo ele, já com seus oito anos, sendo passado para trás por uma menina.
Então, ele resolveu que também colecionaria algo. E seria também um segredo. Mas não funcionou, não causou nenhum impacto.
A curiosidade dele ficou ainda maior.
– Como a coleção de Josefa é importante – pensava. Fazia dela importante e ela andava como uma pessoa importante; com isso, ele a achava linda. – Poxa vida! Tudo por causa dessa caixinha de coleções! – suspirava amargamente.
E a colecionadora continuava em seu passo insolente, com sua preciosidade nas mãos, para desesperança do menino.
Carlinhos nem soube dizer como, num ato de ansiedade, pulou nos braços de Josefa e derrubou o que ela tinha nas mãos.
Que surpresa! Ao cair a caixa e abrir-se a tampa nada havia em seu conteúdo.
Josefa chorou compulsivamente. Seu segredo havia sido revelado, não possuía nenhuma coleção especial. Aliás, não possuía nenhuma coleção.
E Carlinhos se sentiu o maior, pois havia descoberto o grande segredo; nunca mais ela lhe seria superior. Foi quando, olhando para a menina inconsolável, percebeu o quanto ainda era linda e como estava frágil. Compreendeu que não era aquela coleção que a deixava especial.
E foi consolá-la:
– Eu sei que você guardou sua coleção em outro lugar.
Ela lhe abriu um sorriso:
– Ah, você sabe?
E Carlinhos se sentiu feliz ao vê-la sorrir.
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