Bianca Rosenthal
Aconteceu comigo algo
que muitos também devem ter passado por situação parecida. Estava num passeio
desses contemplativos para observação de aves. É sabido que nestes tipos de
passeio o silêncio deve imperar. O guia para em pontos específicos para
esclarecimentos de dúvidas, mas, na hora em que os pássaros são avistados não
se deve fazer barulhos e movimentos bruscos, para não espantar os belos
animais. O objetivo é observar, contemplar, fotografar.
No entanto, aquele
tipo de pessoa que quer ser o centro das atenções estava no meu pequeno grupo.
O candidato ao prêmio de intelectual do ano não parava de falar um minuto
sequer, de tudo um pouco, era um perfeito conhecedor de todas as coisas do
mundo e uma pessoa que merecia respeito por tanta cultura, sabe? Ele já tinha
dado de cara com um urso no Alaska, era amigo do governador, já tinha
conversado pessoalmente com a rainha da Inglaterra, ensinou vários pratos de
comida ao Rodrigo Hilbert, falava cinco ou seis línguas, sabia tudo sobre a
bolsa de valores, bitcoins e outros
investimentos, fazia tempo que não usava a sua lancha de primeira classe,
degustou os melhores vinhos do mundo acompanhado de modelos famosas etc.
Eu procurei manter a
calma até o momento que lhe perguntei: “você gosta de aves?”, ao que o ser
iluminado me respondeu: “claro que gosto! Tenho algumas exóticas que mantenho
em gaiolas na minha casa. As visitas ficam impressionadas, mas não conte para a
Polícia Ambiental”. E riu! O sujeito riu!
Foi um teste de paciência
que me rendeu a lição: contemplação é para leigos. É para gente que ainda tem
muito a aprender. Lembrei-me da frase de Epicteto dita há mais de dois
milênios: “É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já
sabe”. Para o bem da minha saúde mental abandonei o passeio sendo acompanhada
por uma pessoa da equipe de apoio até o início da trilha. À tarde recebi uma
chamada do guia me dizendo que fazia questão de me acompanhar no dia seguinte
sem taxas extras. Então fui. Quietinha e sem a necessidade de me exibir,
observei cada detalhe, contemplei a beleza das penas, cores, cantos e tirei
lindas fotos das aves livres na natureza.
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