Maria Madalena
Tricanico de Carvalho
Tinha vagas
lembranças do seu tempo de jovem quando
queria vestidos novos, feitos sob medidas,
pela vizinha da casa da esquerda, excelente modista. Tinha roupas bonitas, mas todas já usadas
presente de uma prima mais abastada.
Queria um vestido
de seu gosto. Ir à loja e escolher a fazenda da moda, os aviamentos e os
acessórios. Vestidos de missa, de
festas, para quadrar o jardim em frente
da Catedral de Santo Antônio, para flertar com os rapazes e quem sabe arrumar
um namorado, noivo e um bom casamento.
Como era bom
vestir uma roupa nova, olhar no espelho e se ver feliz para admiração das colegas.
- Outro vestido
novo?
- Que nada,
bem! Reforma! Lembra aquela saia rodada que eu ganhei da minha prima e que me
deixava gorda? Desmanchei e fiz este
tubinho tão na moda!
Com certeza
viveu esta época como todas as mocinhas que queriam arrumar um bom
casamento, portanto se esmeravam na
aparência e hoje vivem no Lar com todas
as necessidades básicas supridas e
várias deficiências físicas, saúde delicada
e cheia de lembranças.
Não sei se houve casamento, filhos, família,
parentes...
Tentei. Fiz
perguntas para ver se ela queria
conversar, contar alguma coisa sobre seu passado, presente ou preocupação pelo futuro. O que sei é que vestidos e roupas bonitas não
sai de sua memória.
- Você tem um
vestido novo para mim?
- Como você se
chama? Alguém pergunta.
- Eu quero
roupas para me trocar! Meu armário está vazio! Responde ela rapidamente.
Sentada em sua
cadeira de rodas, com seu vestido de
seda estampado de flores miúdas e de
fundo rosa clarinho, bem penteada, olhar
inquieto mas, a voz calma não
demonstrando nenhuma perturbação física.
-Vestido bonito
e de seda! Você só tem este?
- Não! Lógico que não tenho só este vestido de seda!
Tenho bastante roupa “lá nas minhas coisas”! Tem dia que são minhas e tem dias
que eu acho que é de alguém que
esqueceu lá e vai voltar para buscar,
então não mexo em nada.
Quando crianças
vivemos a fase de capitação e oblação. Captamos a posse dos nossos brinquedo,
os beijos e carinhos recebidos e só depois dos três anos, mais ou menos,
passamos a distribuir beijos, carinhos, brinquedos e guloseimas. Na maturidade teremos os dois sentimentos
alternados e sem uma definição clara?
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