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Reunião na Biblioteca

terça-feira, 19 de maio de 2020

Vestido de Festa



Maria Madalena Tricanico de Carvalho


Tinha vagas lembranças do seu tempo  de jovem quando queria vestidos novos,  feitos  sob medidas,  pela  vizinha  da casa da esquerda,  excelente modista.   Tinha roupas bonitas, mas todas já usadas presente  de uma prima  mais abastada.
Queria um  vestido  de seu gosto. Ir à loja e escolher a fazenda da moda, os aviamentos  e os  acessórios. Vestidos de missa,  de festas,  para quadrar o jardim em frente da Catedral de Santo Antônio, para flertar com os rapazes e quem sabe arrumar um namorado, noivo e um  bom casamento.
Como era bom vestir uma roupa nova, olhar no espelho e se ver feliz   para admiração das  colegas.  
- Outro vestido novo?
- Que nada, bem! Reforma! Lembra aquela saia rodada que eu ganhei da minha prima e que me deixava gorda?  Desmanchei e fiz este tubinho tão na moda!
Com certeza viveu esta época como  todas  as mocinhas que queriam arrumar um bom casamento,  portanto se esmeravam na aparência e hoje vivem  no Lar com todas as necessidades básicas supridas  e várias deficiências físicas, saúde delicada  e cheia de lembranças.
Não  sei se houve casamento, filhos, família, parentes...
Tentei. Fiz perguntas  para ver se ela queria conversar, contar alguma coisa sobre seu passado, presente  ou preocupação pelo futuro. O  que sei é que vestidos e roupas bonitas não sai de sua memória.
- Você tem um vestido novo para mim?
- Como você se chama? Alguém pergunta.
- Eu quero roupas para me trocar! Meu armário está vazio! Responde ela rapidamente.
Sentada em sua cadeira de rodas,  com seu vestido de seda estampado de flores miúdas  e de fundo rosa clarinho, bem penteada,  olhar inquieto mas, a  voz calma não demonstrando nenhuma perturbação física.
-Vestido bonito e  de seda! Você só tem este?
- Não!  Lógico que não tenho só este vestido de seda! Tenho bastante roupa “lá nas minhas coisas”! Tem dia que são minhas e tem dias que eu acho que é  de alguém que esqueceu  lá e vai voltar para buscar, então não mexo em nada.
Quando crianças vivemos a fase de capitação e oblação. Captamos a posse dos nossos brinquedo, os beijos e carinhos recebidos e só depois dos três anos, mais ou menos, passamos a distribuir beijos, carinhos, brinquedos e guloseimas.  Na maturidade teremos os dois sentimentos alternados e sem uma definição clara?


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