Pedro
Israel Novaes de Almeida
As cidades, assim como as pessoas,
também aniversariam.
As comemorações deveriam servir para
cultuar a história, lembrando os bons feitos dos que ali habitaram e as
brilhantes carreiras dos que ali nasceram.
Os malfeitos e fracassos dos conterrâneos não precisam constar das
festividades, mas fatalmente são revividos e comentados em esquinas e praças.
Todas as cidades possuem hinos, não
raro pouco modestos, como se todo município brasileiro fosse composto por um
povo heroico, hospitaleiro e trabalhador. Qualquer letra que dissesse o
contrário não chegaria a hino.
Na verdade, salvo raríssimas
exceções, a história das cidades é produto das famílias que habitaram sua
história. Famílias, não raro poderosas, com cargo político ou potencial
econômico permeiam as anotações históricas.
Cidadãos anônimos, que também
construíram as cidades, acabam lembrados, vez ou outra, como verdadeiros
fenômenos ou mera curiosidade. Existe o popular bêbado da praça, o atleta
vencedor, o pensador empobrecido, aquele que ganhou na loteria, o que matou a
sogra, o que compunha e cantava maravilhosamente, e o vereador eterno, sempre
campeão de aplausos e repulsas.
Por entre os relatos fidedignos dos
historiadores, surgem sempre as
suspeitas histórias contemporâneas, em que o prefeito de plantão assume o papel
de herói, que pagou as dívidas dos antecessores e ainda conseguiu muitas obras
e serviços.
As comemorações dos aniversários das
cidades brasileiras possuem um ingrediente comum: o palanque de autoridades,
onde a disputa pela primeira fila é aguerrida, e perante o qual as fanfarras
capricham no ritmo e as balizas demonstram suas melhores dotes. Em alguns
municípios, o povo que fica no palanque é mais numeroso que o outro, espalhado
pelas imediações.
Os palanques fazem parte de uma
realidade secular, ainda não decadente, em que o mais importante não é a data
histórica e sim as pessoas que insistem em demonstrar poderio, social ou
político. Dentre tantas categorias profissionais do funcionalismo público, só
os professores são forçados ao comparecimento às comemorações, com assinatura
de ponto e consideração como dia letivo.
Discriminação das piores !
Poucos municípios mantém a tradição,
das melhores, de manter uma banda municipal, que segue o ano inteiro alegrando
ambientes e marca presença nas comemorações.
Apesar dos ridículos e personalismos
dos palanques, e das explícitas demonstrações de vassalagem de parte da
população, os aniversários podem e devem ser comemorados, constituindo ocasiões
em que a cidade pode conhecer entidades e feitos que, no dia-a-dia, desconhece.
Um pouco de patriotismo, ainda que municipal, é sempre benéfico.
As cidades, todas, merecem nossos
parabéns, algumas por haverem resistidos aos históricos ciclos políticos,
outras por abrigarem uma população que segue sobrevivendo e acreditando.
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