Leda Coletti
Ao ver uma caixa contendo toalhas e bicos de crochê, barras de rendas finíssimas,
preciosidades de uma querida amiga que as guarda com carinho, pois foram
tecidas por sua avó, lembrei-me da disciplina Trabalhos Manuais, quando cursava
o antigo curso normal. Para os adolescentes de hoje, tanto o curso como esta
matéria do currículo escolar são desconhecidos e valem uma explicação.
O curso normal se
referia à formação do então professor primário, hoje o que ministra
aulas no ensino fundamental e Trabalhos Manuais era uma disciplina obrigatória
e ensinava os futuros professores a bordar, tecer tapetes e até serrar madeira,
confeccionando brinquedos e enfeites artesanais( estes eram mais frequentes nos
Institutos de Educação, órgãos financiados pelo Poder Público, onde as classes eram mistas).
Muitas mudanças ocorreram em todos os
setores e principalmente escolares, desde a segunda metade do século passado.,
Algumas positivas, outras negativas. Nos áureos anos dourados, as mulheres não
tinham muitas opções de escolhas para trabalhos futuros. Uma grande parte
escolhia o magistério, mesmo sem vocação para lecionar. Talvez, por esta razão
os responsáveis pela grade curricular incluíam além de conteúdo específico para
o magistério com crianças, atividades que poderiam ser exercidas por donas de
casa. Na escola particular em que estudei
o curso era dirigido por freiras religiosas e voltado para alunas
do sexo feminino.
Nestas aulas trabalhava-se muito e
exigia-se muito também. Havia as que apreciavam muito os pontos de bordados,
crochê, tricô que Irmã Justina ensinava. Para tal, tínhamos um pano de amostra,
além da obrigatoriedade de bordarmos toalhas, ou tecermos tapetes para a
exposição do final do ano, quando os pais e outros convidados vinham
apreciá-los.
Particularmente não era artista nesse
mister. Como se diz popularmente” dava para quebrar o galho”, me preparando para as provas bimestrais,
quando tínhamos que apresentar para nota o ponto sorteado.
Numa dessas ”sabatinas” fiquei numa
situação difícil, quando a colega que sentava na carteira traseira jogou o seu
material para que eu fizesse o seu. Não tive outro remédio senão tecê-lo. E
o que surpreendeu foi a nota mais alta
para a colega beneficiada ( ninguém mandou ser conivente com atitude errada),
Quantas lembranças a caixa de rendas nos
suscitaram. À amiga, recordações da avó artista
e para mim os tempos em que fui
uma normalista.
Ah! Bons tempos que não voltam mais!
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