Olivaldo Júnior
Era uma vez, há muito tempo, um menino que sentia dentro de si um grande amor por tudo o que havia. Tinha amor por seus pais, por seu irmão, por seus parentes, por seus amigos e por todas as coisas que Deus havia criado para todos os seus filhos.
Esse menino, com o tempo, foi vendo que não podia ter todos, nem todas as coisas para sempre e, sozinho, sofria. Chegava a um cantinho de casa e, quando ninguém estava vendo, chorava, chorava, chorava como se o choro fosse lavar essa certeza.
O menino, coitado, não sabia, que as verdades da vida não mudam. O mundo, as pessoas que amava, tudo o que havia, um dia, passaria, deixaria de existir. Assim, novas pessoas, novas pedras e novas flores poderiam surgir e experimentar o sol da vida.
Chegando à adolescência, aquele menino sentiu que estava vivendo sua primeira grande perda, a da infância. Seu coração menino, inquieto, se mudava em coração de jovem, que se mudaria em de homem daqui a pouco e, mais tarde, em de velho.
Certo dia, quando seu peito parecia irromper-se em mil perguntas sem resposta, correu para seu quarto e, com a caneta Bic mais simples do mundo, pôs-se a escrever seu primeiro poema. Era sobre um homem falando com Deus, pedindo a Ele respostas.
Não, o menino não sabe onde foi parar esse poema... Depois desse, vieram outros, muitos outros, que o sustentaram a alma em seu corpinho adolescente, em seu corpanzil de moço feito e em seu corpo de homem que caminha para sua velhice.
Talvez esse menino nunca tenha previsto que existiria um dia em que se comemoraria seu ofício, o da Poesia. Talvez esse menino sequer suspeitasse que um poema só nasce pelo desejo de se guardar o que não se pode verdadeiramente guardar, mas sentir, tecer com o fio aéreo do verbo a veste fria dos versos e fazer de conta que se guarda quem se ama, o que se ama e o que se surpreenderia eterno.
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