Plinio Montagner
A vida, após a perda de uma pessoa querida,
fica insuportável. O céu, a terra, o mar, nossa casa, o quarto, a mesa do café
da manhã, a sala de visitas... tudo se transforma num deserto.
Aprendemos, mas esquecemos, que quando
tudo vai bem não percebemos nem valorizamos esse tesouro.
Nossos pais, nossos filhos, nossa saúde
perfeita, nossa casa, tudo que é maravilhoso muitas vezes ignoramos, e tendemos
evidenciar o supérfluo, o banal, ou o deslize de um amigo.
Os que ficam, ficam à procura às cegas, no
vazio, do nada, e nada tem sentido. A lembrança cruel não dá trégua.
Amigos ajudam, e muito, por isso buscamos
neles um tipo de salvação. Mas, por que deixá-los tristes também; eles têm suas
vidas e seus problemas.
A presença dos familiares às vezes faz piorar
a melancolia; frases relembram fatos e imagens de momentos maravilhosos, e, nos
espaços embaçados vislumbramos semblantes disformes de quem amamos.
Merecemos, talvez, essa provação, esse
castigo, é o que parece.
Mas quem foi, e não se sabe para onde, que
culpa teve para ser sacado da vida, ser punido, enquanto bandidos ficam
zombando dos bons e dos inocentes?
Se Deus existe, acho que Ele não é
justo.
E agora? Com quem vamos comentar o filme,
o que aconteceu durante o dia, revelar a beleza de um lugar, contar o capítulo
da novela e a última fofoca?
Sair sem destino é uma alternativa, mas
qualquer caminho não leva a lugar algum.
Abrir gavetas e rever anéis e colares;
guarda-roupas para lembrar os bailes; as fotos nos álbuns... é bom, mas é
triste - abre feridas.
Casamento é uma prisão consentida, mas
de que vale a liberdade sem o a presença do amor?
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