Olivaldo
Junior
Na verdade, estou cansado. O que é o cansaço senão uma vontade da alma se libertar e estar além, com as aves e com os anjos, que a entendem mais que os homens? Não sei falar de tudo o que falam os homens, nem tenho WhatsApp. Estou meio fora do mundo, em outro mundo. Não sei jogar cartas e nem blefo com a vida. Estou por fora, perdi a hora, e já vem a aurora, sem ninguém que seja amigo o bastante para estar comigo em uma simples caminhada, ou me pergunte como é ser eu mesmo na jornada. Os jornais já falam de mim, mas tem gente que se lembra de que, um dia, fui "alguém". Ninguém me conta a verdade que vai em seu peito, e eu, por despeito, já não falo muito de mim. Estou cansado. Meus pés, doídos, na salmoura de um salmo, refrescam-se todos e eu sou todo ouvidos para o vento, que anda mudo e, à moda dele, ainda me fala. Calo-me. Estou cansado. Isso é tudo. Quase nada. Ah, se eu bebesse o suficiente, se eu cantasse mais alto!... Mas voo baixo e, cabisbaixo, vejo as pedras que me emperram cada passo. O espaço, pequeno, é o que tenho para mim. Ontem, sexta-feira, foi-se embora o meu sonho. O mundo é mais real do que eu quero. E não quero muito mais do que eu tenho. Na verdade, o cansaço é na alma, na palma de quem ama e se inflama.
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