Ivana Maria França de Negri
Visitar as origens é sempre emocionante.
Meu bisavô paterno veio da Ilha da Madeira para o Brasil, aqui casou-se, formou
família e nunca mais retornou.
Tive a oportunidade de visitar a Ilha
neste réveillon. Um lugar belíssimo, sem índices de criminalidade, chamada de
“A Pérola do Atlântico”.
Distante de Lisboa quase mil
quilômetros, envolta pelas águas azuis do oceano, possui cerca de 250 mil
habitantes. Como em toda localidade européia, tem a parte antiga e a moderna,
rodeada de vinhas onde se produz o famoso vinho Madeira.
A cidade de Funchal, capital da Ilha, totalmente
voltada ao turismo, tem esse nome por causa do funcho, que é a flor da erva-doce.
As árvores frondosas e centenárias e as casinhas típicas enfeitadas com
azulejos azuis, emprestam à cidade um ar de sonho. De natureza vulcânica, tem
muitas escarpas, morros e paisagens incríveis.
Mesmo no inverno, o clima é agradável. A
culinária deliciosa, e os doces, irresistíveis!
Existe o pão do caco, uma iguaria que é
oferecida em todos os restaurantes, lanchonetes e hotéis. Feito de uma mistura
de trigo, fermento, água e batata doce, assado na pedra e servido quente com
pasta de alho e salsa.
Visitar o Mercado dos Lavradores é
obrigatório para se conhecer as frutas típicas da região e o artesanato local,
um dos mais famosos do mundo. As bordadeiras da Madeira ficam nas portas das
casas e das lojas a bordar com perfeição as guarnições de mesa, camisolas,
guardanapos, mas os preços são um tanto salgados para quem não ganha em euros,
pois tudo é feito à mão, e ao turista, só resta trazer uma peça pequena.
Fizemos um passeio com duração de cerca
de três horas, num barco que é réplica da caravela Santa Maria de Colombo. A
nau vai até o meio do oceano impulsionada pelos motores, mas quando está bem
longe do cais, são desligados os motores,
içadas as velas, e o barco fica ao sabor das ondas e do vento. Uma
experiência única, com a tripulação vestida com roupas da época. Dá para sentir
ao vivo e em cores as sensações como nos tempos dos descobrimentos, é como se
estivéssemos de volta ao século XV. Às vezes se avistam baleias e golfinhos ao
redor da embarcação.
Há também vários museus, um Jardim
Botânico com árvores ornamentais e frutíferas
e passeios de teleférico ou ônibus turísticos de dois andares.
Mas existe uma atração imperdível,
exclusiva da Ilha da Madeira, que são os “carros de cesto”, uma espécie de
trenó, sem rodas, trançado em vime que desliza pelas ladeiras em grande velocidade,
movidos a cordas pelos “carreiros”, dois homens que usam sapatos com solado de
pneus para as freadas. É algo inusitado e diferente e a ladeira de dois
quilômetros, percorre-se em menos de dez minutos. Adrenalina pura! Em 1850 era
meio de transporte, agora é atração turística. Como o tempo todo os carros de
cesto deslizam morro abaixo, as pedras se tornaram polidas e lisas como sabão.
Do alto do teleférico avistam-se nos
morros as belas habitações, casas coloridas e floridas, ao contrario do Brasil
que possui só barracos nas favelas empobrecendo a paisagem.
Fico imaginando por que meu bisavô
imigrou sozinho para o Brasil, aos dezoito anos, para começar uma vida nova no
início do século XX.
Fiquei emocionada ao pisar naquele solo
de meus ancestrais, reencontrando minhas raízes portuguesas. Pela parte materna
meus antepassados vieram da Itália.
Que mistura, que sina... Amo os doces
portugueses e as massas italianas!
* texto publicado na GAZETA DE PIRACICABA 21/01/2015
Veja também em CulturallMind
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