Cassio Camilo Almeida de Negri
O
diamante nascera do fogo, ungido em meio às lavas rubras e quentes, gerado no
magma do útero da mãe terra e ejaculadas pelo vulcão em erupção.
Após esfriar, tornara-se apenas
uma rocha sem brilho, cheia de arestas irregulares, incrustada na encosta da
íngreme montanha.
Com o passar dos
séculos, fustigado pelos ventos gelados e solapado pelas chuvas torrenciais,
foi ficando cada vez mais escurecido pelo cascão de sujeira que incorporava.
Alcançou o rio e, no
seu leito, foi durante milênios rolando, rolando, em direção ao oceano.
Nunca o alcançou, mas rolou muito
pelos riachos, afluentes e rios.
Quanto rolou, quanto perdeu as
arestas, até que se tornou igual a tantos outros bilhões de pedregulhos a
rolar, sem saber para onde ia, somente sabia rolar, como todos, sem saber o
porquê, de onde vinha, nem para onde ia.
Um dia, porém, resolveu parar e
ficou preso à beira do rio.
Muitos anos se passaram, e ele
ali, estático, embalado pela água fria, algumas vezes suja, algumas vezes limpa,
até que um dia foi içado do lodo e sentiu-se rodando num torvelinho estonteante
na bateia de um garimpeiro.
Fora achado, escolhido para
terrível e bela missão .
Quanto sofrimento passou. Sentiu
tirarem lascas de seu corpo, e a cada lasca que perdia, após uma dor
lancinante, percebia que uma luz brilhante o penetrava.
Após o calvário da lapidação,
toda sua casca suja, adquirida nos milênios de contacto com a terra, fora
retirada.
Polido,
pelas mãos do ourives, podia agora apreciar seu próprio brilho, refletindo a
luz solar.
Tornara-se um diamante lapidado,
um belo brilhante de muitos quilates.
Assim também é nossa alma, que
vinda do Todo se turva na experiência terrestre para, lapidada pelas mãos do
Criador, poder refletir a Luz Divina.
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