Plinio Montagner
Onde se vive
melhor, no campo ou na cidade? Casa ou apartamento? Casa com ou sem quintal? Apartamento
com ou sem sacada? Prédio com ou sem quadras esportivas?
Essas
perguntas não levam a nada. Cada caso é um caso, depende do morador, da fase da
vida, da cidade, do país etc.
Aprendemos uma
coisa: na vida tudo tem um preço, e que não há derrota ou desgraça que não
traga algo bom também, não importa o tempo que leva.
Voltando ao
estilingue e ao computador.
O computador é
uma escola universal; ensina, diverte, promove relações sociais, alivia tristezas
e outras mil coisas; basta-lhe uma mesa, uma cadeira e uma fonte. E o estilingue
precisa de liberdade, ar livre, espaço e alvos; é uma invenção sem a menor
importância, mas proporciona emoções verdadeiras, e ao vivo,
O computador,
ninguém vive sem ele. É igual ao celular. Quem não tem os dois está nu. Mas a
turma do estilingue toma sol, caminha, respira ar puro, come goiaba no pé, sobe
em mangueiras, pula valetas, rola na grama, na areia, no chão vermelho, brinca
na enxurrada nos dias de chuva, caça passarinhos, roda pião, empina pipa; tudo
de graça, e não engorda.
E as crianças do
computador? Ficam estáticas e arcadas diante da telinha, sem piscar, durante
horas, e comendo porcarias. Nunca viram de perto uma vaca ou um bode. Ver bicho
na tela não é a mesma coisa.
Com certeza
muita gente repetiria a infância, sairia dos centros urbanos e voltaria aos
lugares de sua infância, como cantou em versos o célebre Casimiro de Abreu - Meus Oito Anos: “Oh que saudades eu tenho da aurora de minha
vida, de minha infância querida que os anos não trazem mais...”
As crianças
dos sítios e fazendas eram mais felizes, muito felizes. Tinham liberdade, havia
espaços e segurança. Na cidade é perigoso andar a pé e também de carro, e por
isso os pais levam filhos à escola, mesmo seja a dois quarteirões.
Medo é bom e
ruim, pode prejudicar o desenvolvimento. Crianças que crescem nas cidades são
meio enjoadas, medrosas, não comem isso e aquilo, ficam limpando cebolinhas,
salsinhas do prato, enquanto as da roça comem bigato de árvore, goiaba bichada,
fritam rolinhas, bebe água da torneira.
Leite? No sítio
o leite tem de ser gordo, com nata boiando no caldeirão, e os amiguinhos
protegidos da cidade tomam leite zero, aguado.
Fomos felizes
sem computador. É verdade. Andávamos a pé e de bicicleta sem marcha.
Agora é muito
nhenhenhém! Tênis de marca, roupa para judô, uniformes de times de futebol, chuteiras
coloridas, piscina de água morna, touca e óculos de natação, os brinquedos vêm
prontos ou são de montar, cheios de luzinhas, controle remoto. Os carrinhos
correndo e as crianças sentadas.
Têm graça sim,
os brinquedos modernos, são bonitos, coloridos. Mas vêm prontos. Hoje as
crianças não sabem inventar brinquedo e jogam bola dentro do apartamento. Antes, brinquedo era coisa rara, bola era
laranja, chinelos eram limites do gol, ramos de mandioca eram revólveres, e
jogo de botões era com tampinhas de garrafas.
Saudades do
tempo em que as crianças na rua puxavam feixes de cana da carroceria dos
caminhões; - até as meninas participavam da farra.
Casa ou apartamento?
Mil vezes casa, com jabuticabeiras, mangueiras, bananeiras, pessegueiros, ipês...
É, mas os
vizinhos vão reclamar das folhas, dos galhos...
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