Ivana Maria França de Negri
No trajeto entre as cidades de Cracóvia
e Varsóvia, na Polônia, passa-se pelo antigo campo de concentração nazista “Auschwitz”.
Todos nós
estudamos nos bancos escolares sobre esse período negro da história e sobre o horror
do holocausto. Jamais conseguiremos compreender tanta maldade, tanta injustiça,
tanto ódio racial e religioso. Humanos massacrando seus próprios irmãos.
Na porta de entrada do campo, a frase
irônica: “O trabalho liberta”. Entrar nesse local, que se transformou em museu,
e relembrar os acontecimentos é algo aterrorizante.
O inverno lá é rigoroso, com
temperaturas bem abaixo de zero, chegando a 40 graus negativos, com muita neve
e ventos fortes. Não havia lenha suficiente para todos os aquecedores e nem
roupas quentes para os prisioneiros. A lenha ia para os fornos que incineravam
os corpos dos milhares de mortos diariamente. E a que sobrava era prioridade
para os compartimentos dos oficiais nazistas.
Não há como não se emocionar ao caminhar
por aqueles corredores estreitos e escuros, repletos de milhares de fotos dos
judeus mortos, homens, mulheres e crianças. Conta-nos o guia, que assim que
chegavam, cortavam-lhes os cabelos, davam-lhes a roupa listrada e as pessoas
recebiam um número. Sua identidade era literalmente roubada. Eram apenas
números, sem família, sem pertences, sem dignidade, vivendo em condições
insalubres. A ração diária era de 200 calorias, o que os deixava subnutridos,
depressivos e sujeitos a doenças. Homens e mulheres inocentes, destituídos de
tudo, que não eram culpados de nada, submetidos à paranóia de um líder insano.
Em Auchwitz a história está presente em
tudo, viva, pulsante, nos objetos pessoais dos condenados, nas malas com seus
nomes, nas pilhas de sapatos e montanhas de cabelos das mulheres. Disseram-nos
que aproveitavam os fios mais longos para colocar nas tramas dos casacos dos
oficiais para torná-los mais quentes, pois na Polônia faz frio a maior parte do
ano.
Idosos, crianças e deficientes eram logo
descartados, assim que chegavam. Só os adultos mais fortes eram colocados para
trabalhos forçados. Muitas grávidas e crianças eram enviadas para as terríveis
experiências científicas, que não tinham base científica alguma. Melhor
sorte tinha quem ia para as câmaras de gás do quem era obrigado a se submeter
como cobaia humana às atrocidades. Experimentos feitos sem anestesia,
dolorosos, que duravam horas de tortura, como amputação de partes do
corpo, quebra de ossos e retirada de
tendões. Pouquíssimos sobreviviam.
Numa ala encontram-se pilhas de malas
ainda com os nomes dos seus proprietários. Noutra, são milhares de sapatos
empilhados. O mais triste são as montanhas de sapatinhos infantis, botinhas de
bebês, sandalinhas, não há como não derramar lágrimas ao imaginar o pavor dos
pequenos ao serem separados de suas mães.
O lugar mais arrepiante é a sala dos
“banhos”. O guia pede para que entremos em silêncio em memória daqueles que
sucumbiram naquele local. Algumas pessoas mais sensíveis passam mal e não
entram no compartimento, devido à aura pesada que paira ali, onde se realizavam
os extermínios em massa. A porta é estreita e ninguém nunca saiu vivo de lá. Os
corpos iam direto para os crematórios. Eram cerca de oito mil incinerados
diariamente.
O holocausto é uma página da história
que jamais deve ser esquecida, um alerta
para que as futuras gerações fiquem cientes e jamais se repita esse
horror na história da humanidade.
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