Henrique Borlina de Oliveira
Elegeu-se
prefeito. Diplomado, estranhou a ausência do antecessor na posse. No dia três
do primeiro mês do mandato chegou ansioso à prefeitura. Um homem veio abrir a
porta. Pediu que entrasse, cumprimentando o prefeito pela eleição e desejando-lhe
sucesso na gestão da cidade.
A
prefeitura estava vazia e silenciosa, mas achou por bem não comentar nada ao
homem que mostrava ao prefeito o caminho do gabinete como se não conhecesse;
afinal, pensou que estivesse chegado muito cedo para as atividades.
Caminhou
por passos lentos, seguindo o funcionário. As paredes escuras do corredor o
espreitavam. A sala onde antes havia a recepção estava desocupada. No chão, os
fios soltos do sistema de telefonia.
-
O gabinete é ali, doutor! – disse o homem indicando a porta escura e fechada à
sua frente. – Pode entrar, não está trancada. Levaram embora a maçaneta.
Empurrou
a porta devagar. Estendeu o braço para alcançar o interruptor. O homem
adiantou-se.
-
Não há luz. Está cortada faz tempo.
E
foi puxando uma a uma as lonas escuras que cobriam as vidraças do gabinete.
Não
havia móveis algum na sala. Nem mesa, nem computador, nem telefone, nem
armários. Apenas uma cadeira com os estofados esturricados fora deixara para
trás.
-
Deixaram apenas a cadeira – disse o prefeito com a intenção de aproximar-se. O
homem o deteve, segurando-o pelo braço.
-
Cuidado prefeito, o buraco!
Sentiu
um arrepio na espinha quando viu o buraco no meio da sala e por pouco não caíra
dentro.
-
Pensei fosse o desejo de um mosaico no piso.
Da
beirada tentou enxergar o fundo, mas a parede imunda foi escurecendo a medida
que se aprofundava até mergulhar de vez na escuridão do buraco.
-
Para que serve este buraco aí? – perguntou o prefeito.
-
Não me disseram não senhor! Mas ele está aí, do jeito que deixaram.
-
Pelo menos ficou uma cadeira – disse voltando-se para o objeto deixado no
canto.
-
Fosse o senhor, não sentava nela não!
-
E por quê? Preciso de um lugar para despachar...
-
Esta cadeira, doutor, é amaldiçoada. Quem senta nela, nunca mais quer sair de
cima...
O
prefeito sorriu olhando novamente para a cadeira.
-
Se der uma reformada, fica novinha em folha!
E
quando se voltou para o homem já não estava mais ali. Tragado que fora pelo
buraco.
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