Angel Raid |
Maria Cecília Granner Fessel
Conheci seo José
marceneiro por indicação de outras pessoas, quando precisei fazer novos
arranjos após uma mudança.
Um senhor claro de
baixa estatura, sexagenário magro de pouca fala. Uma dessas pessoas cautelosas
que primeiro ouvem e avaliam para depois opinar ou sugerir.
Seu trabalho para nós foi tão perfeito, seu respeito por prazos e datas previamente
combinadas tão constante, que até passamos a recomendá-lo para outras pessoas,
quando nos perguntavam quem fizera tal serviço. Imaginem que ele até conquistou
a confiança de nossa velha gata Mila, que ficava junto dele enquanto
trabalhava...
Depois, falando de
filhos e netos, ficamos sabendo que ele se casara com uma jovem nissei, filha
de imigrantes japoneses da região noroeste do estado.
Os anos passaram, ele
atendendo pacientemente nossos pedidos, até que viramos amigo a trocar
histórias de vida.
Foi então que ele,
com espontaneidade e seu jeito brincalhão, nos contou a história de seu
casamento, quando tinha apenas 18 anos e apaixonou-se pela nissei ainda mais
nova, tendo que enfrentar a família da moça, que vivia cercada e vigiada por
pais, irmãos, tios e primos. Sendo ela menor de idade, ele se arriscava ainda
mais, pensando até que teria de enfrentar a polícia ou um processo judicial
para conseguir casar-se com ela. Mas o sentimento dos dois era forte e ele uma
pessoa decidida- como é ainda hoje- então eles foram se arriscando, arranjando
formas de se encontrar, até que houve um confronto decisivo...
Num certo domingo,
foi ele até a praça da cidade onde morava a moça, resolvido a levá-la consigo,
pois assim tinham previamente combinado as escondidas. Segundo ele, estava
mesmo disposto a tudo, não tinha mais como desistir de ficarem juntos, seja o
que for que acontecesse...Então, de repente, ele viu chegar uma Kombi -daquelas
primeiras que apareceram- cantando pneus e parando perto dele no jardim. A
porta se abriu e começou a despejar na praça uma pequena multidão de japoneses
de todas as idades e tamanhos, com todo o ar de quem está pronto para a briga,
vindo na sua direção!
Ele ria enquanto nos
descrevia a cena, dizendo:-
-O que eu podia
fazer? Já tinha chegado até ali, me preparei para apanhar, mas também não ia
deixar barato!
Aí a turma toda me
cercou, todo mundo falando e gritando ao mesmo tempo, num português misturado
com japonês, até que o chefe da família ordenou silencio e começou a
conversar comigo do seu jeito meio atrapalhado. Eu, meio sem entender, fui
ouvindo, concordando, até que chegamos num acordo. Tempos depois, fui buscar a
moça e nos casamos, tivemos filhos e um deles até foi trabalhar no Japão
durante algum tempo... Mas, antes dos filhos, aconteceu me aconteceu coisa
pior...
- O que foi, seo
José?- perguntamos ansiosos...
Pois é, logo que
casamos, ainda em tempo de lua de mel,fui consertar o telhado e caí lá de cima,
fraturei a coluna e tive que ficar 30 dias de bruços, imóvel e esticado sobre
duas cadeiras, para ter uma chance de me recuperar..
Eta gente de
pensamento forte!
2 comentários:
Cecília, e muito bom ler seus contos e poemas. Não deixe nunca de nos brindar com essas prendas.
abraços
Bernadete
Cecília, e muito bom ler seus contos e poemas. Não deixe nunca de nos brindar com essas prendas.
abraços
Bernadete
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