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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Quando não se tem mais nada a dizer



 Olivaldo Júnior
            Seria tão bom se eu me calasse e nunca mais incomodasse a quem me odeia. No entanto, enquanto o canto rodeia, rompo a cadeia em que me pus, ou me puseram, não sei, há muito tempo na Terra. A terra tem um cheiro tão doce quando a chuva chega e se impõe sobre ela, molhando a dureza, o chão. Faz tempo que eu não molho a dureza do meu sertão. Faltam-me lágrimas, não? Sim, faltam-me gotas de orvalho íntimo, coração.
            A beleza, quando não se tem nada a dizer, fala por mim. O difícil mesmo é ser belo, é ser mais que o cerebelo, atingindo, em cheio, o irmão alheio, à mercê do nada. Nada é mais triste do que não se ter nada a dizer. A partir do nada, nenhuma estrada, nenhum tijolo pode ser posto. Vide o desgosto. A carência tem cara de quem não tem nada a ser dito. Quanto vale um coração bonito? Coração não é só feito de sangue e músculo, cadência e força. Coração tem flama na alma de quem o tem. Tenho tanta pena no coração que vou virar um passarinho. Mas não choro, não... Faltam-me as lágrimas.
            Quando não se tem mais nada a dizer, fala-se do tempo, de onde, quando, como e por que vai fazer sol, se é que vai fazer. Fazer falta é dizer ao próximo que você vale a pena. Pena que as palavras não dizem tudo. Tudo o que eu tinha a dizer me faz ficar quieto. Cala-te, boca... Boca não serve quando fala demais. Mas é vício de quem pode falar falar pelos cotovelos. Vê-los tão quietos me faz suspirar e pensar no quanto me esquecem. Prece não é só com palavras. Sai de mim a minha essência e percorre o espaço: é você? Se você sabe quem eu sou, por que não me diz nada? Sua ausência é vã.
            Vamos andar um pouco, viver um pouco, que a vida é breve, leve como um pássaro no azul. Azul é minha sina, não vivo sem ele. Amigo, quanto azul, no verde dos olhos a quem sobra esperança. Cansa um pouquinho, para um bocado, mas vai. Quando não se tem aonde chegar, chega-se assim mesmo. Queria tanto chorar, quem sabe, passava. Mas passo e lhe peço que se lembre de mim. Enfim, há milágrimas no paraíso.

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