Pedro Israel Novaes de Almeida
Apesar das evidências, não convém
vivenciar o Natal como uma fria e pérfida ambientação de consumo.
Tampouco é agradável passar a festa
sob a suspeita de estar sendo colonizado culturalmente, em país com esporádicas
neves, nenhuma rena e raros trenós. Inútil lembrar que nossas manjedouras não
servem como maternidades, e nossos reis não são magos.
O Natal pode ser pretexto ou fato.
Para alguns, é mais um feriado, com suas praias, churrascos, pescarias, viagens
ou simplesmente o merecido ócio.
Para outros, é data sagrada, comemoração
do nascimento daquele cujos ensinamentos atravessaram séculos, e ainda inspiram
solidariedade e virtudes. Retiros, convivências, solenidades religiosas e ritos
regionais marcam a ocasião, país afora.
No ambiente laboral, inimigos
declarados viram amigos secretos, e a troca de presentes e elogios tenta
minorar o stress de mais um ano. Até nas prisões o trato adquire ares de
respeito humano.
Crianças, que já no primeiro decênio
percebem que o bom velhinho é invenção humana, ficam maravilhadas com os
enfeites e ornatos que embelezam a cena, sob a expectativa inevitável dos
presentes. O amanhecer as encontra pelas calçadas, paparicando novos
brinquedos.
Aqui, o toque cruel da ocasião,
representado pelas crianças que vivenciam a intensa e massacrante ambientação
de presentes e guloseimas, pouco assemelhados aos que de fato recebem e
degustam. País afora, o Natal é pobre, e nem por isso menos mágico.
O Natal, por tradição, reúne
famílias, ao redor do avô ou avó sobrevivente. A ceia encontra adultos em
diálogo, crianças brincando e adolescentes indo e vindo a outros ambientes, de
amigos ou namorados.
Aos poucos, os filhos formam
famílias, gerando novos núcleos de convivência, e assim irmãos e primos partem
para outras ceias, multiplicando a distância e aumentando a saudade de antigas
comemorações.
Cada um vivencia o Natal a seu modo,
com tristeza ou alegria, manifesta ou recôndita, sob farta gastronomia ou
mantendo rotinas alimentares. Não há, contudo, como evitar o surto de
solidariedade que a todos atinge, de senhores a escravos.
A tradição não foi criada pelo
comércio, que simplesmente a aproveita como pretexto ao consumo. Papai Noel foi
gerado em terras distantes, e distribui mais alegrias e esperanças que
dissemina culturas.
Dizem, maldosamente, que Papai Noel
não existe. Se tal for verdade, é uma pena, pois deveria existir.
Um comentário:
Gostei muito dessa cronica:atual e sincera.
Em minha infancia,no Natal, não havia banquetes ou brinquedos mas iamos á missa da meia-noite e cantávamos "Noite Feliz".
Depois voltavamos para casa e iamos dormir sonhando com o menino Jesus.
Papai Noel era coisa de ricos e comer a gente agradecia por haver comida para todos, todos os dias...
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