Plínio Montagner
A vida oferece maravilhosas ao homem. Acontece que uns
desfrutam, outros não. O Sol não nasceu para todos. Para gozar do bom o homem
precisa merecer. Aquele que vai à luta, prepara-se, estuda, trabalha, sua,
administra decepções, terá créditos e condições de realizar suas ambições. Além
de querer é preciso se qualificar para merecer.
A felicidade é possível ao pobre, ao rico, ao feio, ao
bonito, ao jovem, ao velho, desde que os objetos dos desejos sejam colocados ao
alcance da capacidade de cada um e, principalmente, lutar para conquistá-los,
em vez de ficar esperando que alguém lute por ele.
Uma regra para o homem viver melhor, e em paz, é
possuir apenas o que lhe é necessário. O homem prudente, moderado, não se
inquieta porque o vizinho tem algo que ele não tem ou porque a casa dele é mais
bonita.
A cobiça e a inveja doentia custam caro porque o
conforto e o tempo são fatores relativos. Um castelo ou uma cabana também
abrigam e protegem.
Dizem que tudo que o homem conquista sem necessidade
só serve para esnobar e dar trabalho.
É claro que é bom viajar de primeira classe, ter bons
planos de saúde, uma casa confortável, uma ilha, assistir a shows em qualquer
lugar do planeta. Porém existem bens
mais relevantes do que posição social e riquezas. Dinheiro compra bens
materiais, satisfaz prazeres, mas não compra riquezas que ninguém rouba:
caráter, dignidade, bondade, conhecimento, educação e comportamento social.
O sábio não ostenta riquezas para ser feliz, nem sente
invejas, porque sabe que o dinheiro e beleza não trazem felicidade.
E as invejas do dia a dia?
A inveja é um pecadinho à toa, uma alegria efêmera,
mas pode fazer uma pessoa passar toda a vida insatisfeita.
Algumas invejazinhas são até necessárias porque
predispõem as pessoas a evoluir.
Quem não deseja ter salários altos e empregos públicos
com aposentadoria plena? Quem não tem inveja de quem come até se fartar, e não
engorda nem fica doente? Quem não tem uma inveja de quem aprende cinco ou seis
idiomas? É claro que invejamos os gênios da música e da poesia que compõem
peças eternas sentados numa poltrona de avião ou na cadeira de um bar.
Sinto inveja, coisa boba de infância, de quem
coleciona gibis antigos, dos anos 40 e 50. Eu tinha uns duzentos. Um dia minha
mãe mandou uma empregada acender o forno à lenha para assar pão. Cadê meus
gibis? Eram umas revistinhas velhas...
Muitos pais ficam aborrecidos se um filho não entrar
numa universidade pública mesmo fazendo cursinho, e o filho do amigo passa
direto. A vida é assim. O destino é o que se herda. Nem todos aprenderão russo
ou tocar piano.
No amor acontecem paradoxos inexplicáveis. Paradoxos
não têm explicação. Mas como ficar indiferente se uma mulher maravilhosa,
inteligente, de moral exemplar, escolher para marido um cara esquisito, não
sabe fazer um prato, não lê nada, não faz nada, não estuda nem trabalha. Ela
diria que o ama, e ponto.
Danuza Leão, escritora, revela num dos seus livros
algumas diferenças entre ricos e pobres. Ela morria de inveja dos passageiros de
primeira classe que saíam do avião e iam direto para o hotel sem passar pelos
fiscais. E ela ficava de olho nas esteiras aguardando suas malas. Bagagem de
celebridades e de quem é chique chega aos hotéis antes deles.
Moral da história:
Tolo e irresponsável é quem vive na ociosidade e faz
da corrupção e do peculato um meio de vida. Ímprobo, infame e canalha é quem
acha que o trabalho e a honestidade pertencem aos otários.
Desses tipos ninguém sente inveja. Salvo os que são da
mesma laia.
Um comentário:
Muito bom Plinio... é isso mesmoooo! Parabéns.
Um grande abraço.
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